O arrendamento de
casa de férias de verão na vila de Buarcos, Figueira da Foz, por períodos de 15
dias ou um mês, é um luxo que os turistas abandonaram, optando por uma semana
ou poucos dias, revelam proprietários.
A vila piscatória de Buarcos sentiu menos do que a sede
do concelho a quebra no arrendamento sazonal de casas de férias - explicada,
nas duas últimas décadas, pela construção e compra de segunda habitação, em
detrimento do arrendamento - e, em especial na zona em redor da igreja matriz
de São Pedro, sucedem-se anúncios em portas e janelas, mesmo se o negócio
enfrenta dificuldades.
"Está mau, muito mau, mais mau não pode estar. Há
pouca gente para alugar, não há dinheiro, as pessoas não vêm", disse à agência
Lusa Maria Saldanha, 85 anos e décadas de experiência no arrendamento de
moradias de verão.
Se antes os acordos eram feitos ao mês ou 15 dias, agora
os períodos não ultrapassam uma semana, ou ficam-se por dois ou três dias.
"Alugo quase sempre à semana. Tinha muitos clientes
habituais, até do estrangeiro, agora é muito raro virem. Este ano ainda ninguém
me ligou, está difícil mesmo", adiantou Maria Saldanha.
A proprietária, que reside no largo da Torre Eiffel, a
poucos metros da igreja, não adiantou preços - argumentando que variam conforme
as características das habitações e meses do ano -, dados que também Carlos
Noronha Lopes, pároco de Buarcos, afirmou desconhecer, embora coincidindo nas
mudanças a que o negócio tem estado sujeito.
"As pessoas vinham alugar por semanas e hoje alugam
à noite e ao dia, podem estar dois, três ou um dia ou uma semana", frisou.
Carlos Noronha Lopes considerou "dramático" o
cenário do lado de quem arrenda, porque, se os períodos de 15 dias ou um mês -
hoje "um luxo, haverá um [arrendamento] em mil" - possuíam regras
próprias, relacionadas com as condições oferecidas pelos proprietários aos
turistas, num arrendamento ao dia "há que mudar tudo, fazer camas de
lavado", um conjunto de pormenores que exigem manutenção diária das casas.
O pároco assinalou, no entanto, a característica
"comum" aos povoados portugueses da beira-mar, nomeadamente nas
comunidades piscatórias, que possuem "o gosto de acolher e receber
bem".
"São capazes, inclusive, de ficar mal os próprios
durante os dias que alugam, mas ter a preocupação que a quem chega nada falte”,
disse.
Esta "maravilha de postura", acrescentou, é
fundamentada pelas características intrínsecas dos residentes - "mais eles
do que elas" -, que, quando navegam, têm a experiência de terem de ser
acolhidos noutros portos.
Rua abaixo, também Ana Paula Nascimento arrenda casas,
mas, ao contrário da sogra Maria Saldanha, revelou "falta de feitio"
para andar na rua a angariar potenciais clientes.
Admitiu que o negócio "está muito pior" e que
os períodos extensos de arrendamento já não existem: "15 dias é um achado,
agora é uma semana, uns dias", sustentou.
Na praia da baía de Buarcos, junto às muralhas da vila, a
reportagem da Lusa conheceu José António, que viajou de Vilar Formoso com a
família para passar uns dias de férias.
Arrendou casa pela Internet, em março, ao preço de 150
euros por "uma semaninha", afirmou.
"Se fosse agora, se calhar, era mais caro. Com a
crise acho um bocadinho exagerado, mas temos de fazer umas poupanças e
aproveitar estes dias para vir com a família", justificou.
Não é a primeira vez que José António demanda a Buarcos,
praia que considera "ótima", mas noutros anos "havia mais
gente", reconheceu.
(“Noticias ao Minuto”)