25/10/24

A tradição automobilística da Figueira da Foz

Em 1895 chega a Portugal o primeiro automóvel, um veículo da marca PANHARD & LEVASSOR, importado de Paris por D. Jorge d’Avillez, IV Conde de Avillez, residente no Alentejo, em Santiago do Cacém.De Lisboa para Santiago do Cacém, a viatura mata um burro à entrada de Palmela. O dono do burro é indemnizado pelo Conde na quantia de 18.000 réis, o triplo do valor de um burro naquela época.
A viagem de Lisboa para Santiago do Cacém demorou 3 dias, tendo o Panhard & Levassor atingido a velocidade máxima de 15 Km por hora.

Sete anos depois, em 21 de outubro de 1902, realizou-se a primeira corrida de automóveis em Portugal e na Península Ibérica. Recordam-se? Pois... esta corrida de estrada foi da FIGUEIRA DA FOZ a LISBOA.

O preço da inscrição foi de 10.000 reis para automóveis e de 5.000 reis para motos. Inscreveram-se 14 concorrentes: 9 automóveis (2 a vapor e 7 a gasolina) e 5 motos.

A corrida foi marcada para um domingo, mas foi adiada para segunda-feira, porque em muitas localidades de passagem havia feiras e mercados em plena atividade. E um burro atropelado tinha custado ao Conde 18.000 réis, quase duas inscrições, sete anos antes.

Dos 14 inscritos apenas 10 se apresentaram à partida. Os concorrentes tinham o tempo de 10 horas para cumprir o percurso.

O 1º a chegar à meta no Campo Grande, com uma hora de avanço sobre o 2º, foi o francês Edmond, num DARRACQ. Foi desclassificado, com o pretexto de ter sido substituído na condução, durante a prova. E, o vencedor foi o FIAT de D. Afonso, irmão de D. Carlos I, conduzido pelo italiano Giuseppe Bordino.
O italiano demorou 7 horas, 29 minutos e 25 segundos da Figueira da Foz a Lisboa (Campo Grande). O 2º classificado foi Afonso de Barros, em DARRACQ, e o 3º António Paulo de Oliveira, em moto BUCHET. A dureza da prova levou à desistência ou à desclassificação dos restantes concorrentes.

O raid FIGUEIRA DA FOZ – LISBOA, a prova automobilística mais antiga da Península Ibérica, que teve a sua 1ª edição em 1902, só voltou a repetir-se em 1982, para comemorar os seus 80 anos, e, em 2002, para assinalar os 100 anos.

A partir de 2002, o raid FIGUEIRA DA FOZ – LISBOA realizou-se anualmente, recriando a célebre prova de 1902, sempre com grande afluência de viaturas antigas, construídas até 31 de Dezembro de 1939.

O raid FIGUEIRA DA FOZ – LISBOA repetiu-se recentemente, em 20 e 21 de Outubro de 2017, com organização de 5 entidades: o CPAA, o ACP Clássicos, o Museu do Caramulo, a ACAAN e o Museu Automóvel de Famalicão.Mas a Figueira da Foz tem vivido, noutros momentos, dias intensos de vibração e êxtase, especialmente os amantes das provas automobilísticas puras e duras.

Recorda-se que o RALI DE PORTUGAL/RALI TAP arrancou da Figueira da Foz durante 3 anos consecutivos, de 1995 a 1997.

E o Rali de Portugal não foi um rali qualquer, pois recebeu, por 5 edições consecutivas, de 1976 a 1980, e ainda em 1982, o título de Melhor Rali do Mundo atribuído pela BPICA (Bureau Permanent International des Constructeurs d´Automobiles).
Pela Figueira da Foz passaram os melhores automobilistas do mundo, Mark Allen, Hannu Mikkola, Massimo Biasion, Juha Kankkunen, Carlos Sainz, Tommi Makinen, Colin McRae, Dider Auriol, Sébastien Loeb e Sébastien Ogier, assim como os melhores portugueses, Francisco Romãozinho, Santinho Mendes, Carpinteiro Albino, Joaquim Santos, Armindo Araújo, Joaquim Moutinho e Rui Madeira.

As curvas da Serra da Boa Viagem nunca se esquecerão deles. E sem eles nunca mais as curvas viram tanta gente.

Recorda-se ainda o RALI DE FIM DE ANO, iniciado em 1954, ininterrupto até 1972, antigamente organizado pelo Clube Arte e Sport e atualmente pelo Clube de Automóveis Antigos da Figueira da Foz (CAAFF).

Recorda-se, por último, o “figueirense” RUI DE MONTARGIL, já falecido, internacional de patinagem e grande corredor de automóveis, que nos anos 50 e 60 do século XX ficou célebre no automobilismo, ao volante de um DKW, representando o Ginásio em Voltas a Portugal e em várias edições do Rally do Fim do Ano na Figueira da Foz, com frequentes vitórias.

(Fernando Curado, março 2018)