São João, São Julião, ou Santo António: Qual deles é o patrono dos figueirenses?
S. Julião foi o patrono da
Figueira desde a fundação da sua Igreja Matriz no final do século
XI. |
São Julião
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Mas, a 4 de maio de 1776, a Câmara
elegeu Santo António como padroeiro da Figueira, e a 14 de junho de
1921 deliberou que o feriado municipal seria a 24 de agosto, e,
finalmente, a 12 de junho de 1929 mudou o feriado para o dia de S.
João.
Resumidamente, foi esta a evolução
dos três patronos que têm protegido os figueirenses, como
passaremos a demonstrar.
A prova de grande afeto que os
figueirenses tinham a S. Julião está bem explicita na Informação
Paroquial do Padre Melchior dos Reys, de 23 de maio de 1721, onde
declara que o dia 7 de janeiro era um dia Santo de Guarda por ser S.
Julião o orago da freguesia:
“…e de virem…à dita Igreja
as Cameras, e mais povos, de Tavarede, e Buarcos hûa em dia de S.
Julliam, Orago da d.ª Igreja que he a 7 de Janeiro, guardando o tal
dia como Santo de Goarda….”.
Não obstante, em 4 de maio de
1776, a Câmara da Figueira deliberou que Santo António seria o
patrono dos figueirenses, advogado e protetor da vila “porque no
coração dos moradores desta villa se conhecia mayor fervor de
devoção ao Gloriozo Santo Antonio”:
“Tro. pello qual se tomou por
advogado ao Gloriozo S.Anº na frª abaixo declarada: Aos coatro de
Mayo de mil sette centos e setenta e seis annos nesta villa da
Figueira da Foz e moradas do Doutor Juiz de Fora Bento José da Silva
em ato de Câmara e sendo ali presentes o dictto Menistro e
Vereadores Manuel Joze Soares Carvalho da Cunha, António Osório de
Pinna e Mello, Joze Joaquim dos Santos Pinheiro e o Procurador Manoel
Francisco da Maya foi proposto e por todos uniformemente assentado
que avendo em todas as villas notaveis e cidades deste Reyno o santo
e louvavel costume de terem por Patrono e Advogado algum Santo da sua
mais particular devoção que ore diante de Deus pellas felecidades
dos Respectivos Povos, não era justo que esta villa no prencipio da
sua creação dexace de seguir tam bom exemplo e porque no coração
dos moradores desta villa se conhecia mayor fervor de devoção ao
Gloriozo Santo Antonio e se teria mais grata afeição do Referido
Santo, para seu Advogado o invocavão por este solemne acto para
Protector desta villa e fazião votto de assestirem em Corpo de
Camara com tôda a Nobreza as Vesperas e Festivide do mesmo Santo que
todos os annos se costuma celebrar no seu Convento desta villa e para
constar a todo o tempo, e ter a sua devida execussão agora e
emquanto esta villa se consevar em prosperidade, mandarão os
sobreditos se tomace este assento que assinarão. Eu Francisco Joze
Marques escrivão da Camara que o
escrevi.Silva-Cunha-Osorio-Pinheiro-Maya.” (livro nº 1 das atas,
folha 32 verso, e no livro dos Acórdãos da Câmara, 1786, folha 14
e verso). |
Santo António
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Porquê Santo António se os
figueirenses veneravam São Julião desde o final do século XI?
A atual Igreja de S. Julião
provém do século VII, quando foi edificada uma Abadia na foz do
Mondego, a Abadia de São Julião, que foi destruída em 717 pelos
Serracenos e assim ficou até 1080 quando o conde Sesnando a mandou
reconstruir através do Abade Pedro.
Em 1716 foram iniciadas grandes
obras de reconstrução na Igreja de S. Julião, à custa de um novo
imposto, o “real de água”, cobrado por cada alqueire de sal
saído em embarcações pelo Mondego ou barra, durante doze anos.
As obras iniciadas em 1716 só
ficaram concluídas em 1782, no mesmo ano em que foi inaugurado o
Pelourinho da Praça Velha.
Em 1839 foi construída a segunda
torre da Igreja, a do lado ocidental, e em 1877, 1887 e 1896 foram
feitas novas obras na Igreja de S. Julião, desaparecendo todos os
vestígios da arquitetura antiga.
Por altura da deliberação
camarária de 1776 estava a Igreja de S. Julião em obras e tinha
grande importância a Igreja de Santo António que, construída em
1536, sofreu sucessivas alterações, ampliações e restauros,
principalmente em 1725.
Foi este crescendo de importância
da Igreja de Santo António, em desfavor da Igreja de S. Julião, que
ocasionou a deliberação camarária de 4 de maio de 1776 que
institui o Santo António como patrono dos figueirenses.
Mudam-se os tempos, mudam-se os
protagonistas, mudam-se os padroeiros, como nos explicou João Coelho
no Album Figueirense de 1936:
(...)"um grande lapso de
tempo decorre sem que alguém nos dê quaisquer informações acerca
da devoção dos figueirenses a Santo António, até cinco anos
depois da nossa terra subir à dignidade de vila, em sessão solene
de 4 de maio de 1776, a Câmara Municipal declara que por conhecer no
povo maior fervor e devoção ao glorioso Santo António, deliberava
elege-lo por seu advogado perante Deus! (...).”
“O facto é que a Figueira já
antes tinha o seu patrono - S. Julião - ao qual era dedicada a sua
igreja matriz, segundo o testamento do Abade Pedro e, cujo santo,
nunca deixou de ser o orago da freguesia.”
“Ou não compreendemos bem, ou
pela resolução da Câmara de 1776 ficou a Figueira com dois oragos
(...)".
Diríamos mesmo três oragos,
porque a Câmara Municipal deliberou em 12 de junho de 1929 que o dia
de S. João seria o feriado municipal. |
São João
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Deliberação esta que foi tomada
pela Comissão Administrativa da Câmara presidida por Melo Cabral,
em plena “ditadura nacional”, com base num abaixo assinado de
alguns figueirenses que defendiam que o feriado municipal deveria
coincidir com as egrégias festas do dia 24 de junho.
E anteriormente a 12 de junho de
1929 qual era o feriado municipal?
Era o dia 24 de agosto, que se
manteve de 14 de junho de 1911 a 12 de junho de 1929, comemorando-se
a eclosão da revolução liberal no Porto, a 24 de agosto de 1820,
na qual o ilustre figueirense Manuel Fernandes Tomás tivera um papel
decisivo.
Por isso, os requerentes que
pediram a alteração do feriado municipal de 24 de agosto para 24 de
junho tiveram a preocupação de registar no seu abaixo assinado:
“Não queremos com isto diminuir
a grande figura de patriota que foi Manoel Fernandes Tomaz, mas
entendemos que homenageando este ilustre figueirense, não há
necessidade de ir contra a tradição do povo e aos interesses da
cidade”.
Assim, cada figueirense tem hoje
três santos em sua proteção, S. Julião, Santo António e S. João.
S. Julião, comemorado a 9 de
janeiro, foi preso aos 18 anos por ser cristão e depois submetido a
tormentos tentando demovê-lo da sua fé, depois conduzido por vilas
e aldeias da região da Cilicia para que os pagãos zombassem dele.
Como nada o demoveu da sua fidelidade a Jesus Cristo, foi lançado ao
mar, dentro de um saco de areia com serpentes venenosas e escorpiões.
(O Padre Melchior dos Reis indicou
o dia 7 de janeiro como dia de S. Julião, não sendo provável que
se tenha enganado no dia, porque era natural da Figueira e conhecia
bem as tradições locais).
Santo António, comemorado a 13 de
junho, no dia da sua morte. O "santo casamenteiro" a quem
os jovens devem pedir ajuda para arranjar namorada(o) e/ou para
casar. Também conhecido como o santo dos pobres e o santo das coisas
e das causas perdidas.
(Nasceu em Lisboa, a 15 de agosto
de 1195, onde a sua popularidade é tão grande que muitos pensam que
ele seja o seu padroeiro, mas, na verdade, o padroeiro de Lisboa é
São Vicente).
S. João, S. João Batista,
comemorado a 24 de junho, dia do nascimento do santo que batizou
Jesus Cristo nas águas do rio Jordão, protetor dos casados e dos
doentes, o santo popular mais festejado na Figueira da Foz.
(Texto de Fernando Curado no
Facebook de 13 de junho de 2023. Imagens nossas)