18/06/23

Missiva de um figueirense sobre o areal da praia da Figueira da Foz que até deixar de ser limpa era considerada 'a Rainha das Praias de Portugal'!

Exmos Senhores:

Há mais de 100 anos a Figueira da Foz começou a ser conhecida pela sua praia que se tornou em pouco tempo a principal estância balnear do país, ainda na altura sem concorrência nacional, e que rivalizava com a Côte d'Azur, Biarritz, Bayonne, San Sebastian e outras. Com esta projeção fez crescer à sua volta o imobiliário (com a criação do Bairro Novo), a hotelaria, restauração, o comércio e, consequentemente, o lazer.A marca Figueira da Foz perdura passado todo este tempo, assente na sua beleza natural, no bonito e esplendoroso areal da praia envolta pela baía oceânica ladeada pelo Rio Mondego e Serra da Boa Viagem, continuando a ser, hoje em dia, uma referência turística nacional e internacional, por onde passam anualmente milhares de turistas, movimentando-se milhões de euros e dando emprego a milhares de pessoas.

É graças à sua excelente localização, ao seu ameno clima, e à sua magnífica praia urbana, que a Figueira da Foz continua a ser uma das praias preferidas dos portugueses, espanhóis, e demais nacionalidades. E assim tem permanecido, na senda do progresso e desenvolvimento, com o poder autárquico a responder da melhor forma a todas as solicitações para que a sua praia continue a ser classificada como a Rainha das Praias de Portugal.

No entanto, há sensivelmente uma década, os figueirenses foram confrontados com uma incompreensível decisão por parte do município que, de um dia para o outro, decidiu que o areal não devia continuar a ser limpo. Com efeito, pela primeira vez, em mais de cem anos, a Câmara Municipal entendeu não proceder à limpeza do areal, limitando-se a intervir naquilo que chama a zona de banhos, deixando de limpar não por um motivo específico e concreto, mas que se sabe, por alegadas razões de natureza financeira, no sentido de pouparem algumas centenas de milhares de euros.

A comunidade local e visitante reagiu e, num espaço de tempo pouco superior a 15 dias, recolheu mais de 4000 assinaturas fisicas (e não online) num abaixo assinado que se opunha à decisão da não limpeza do areal, o qual foi entregue de viva mão ao senhores presidentes da Câmara Municipal e da Assembleia Municipal.

E desde essa altura o areal, que sempre se tinha apresentado como um ex-libris da cidade conhecido pelas famosas areias douradas, perdeu toda a sua resplandecência, passando a ficar com uma imagem suja, coberto por uma vegetação rasteira, com um impacto visual extremamente negativo, ao ponto de, nos eventos mediáticos realizados na cidade, as cadeias televisivas evitarem filmá-lo tentando encobrir o estado desolador a que o mesmo está desde então votado.

Não é aceitável que uma praia urbana não seja objeto de limpeza há mais de dez anos, onde a vegetação que ali cresce não acrescenta qualquer tipo de valor ou vantagem, como aliás decorre do ultimo parecer da APA que refere que toda aquela mancha de origem vegetal poderá ser totalmente removida, pois não cumpriu as suas funções que lhe foram destinadas.

É que os autores daquela inusitada decisão, quando confrontados com o descontentamento público pela falta de limpeza do areal, tentaram justificar o facto por se encontrar em curso um projeto de criação de zonas arborizadas com corredores de sombra entre a beira mar e a marginal, tendo na altura encharcado a marginal com cartazes propagandísticos a anunciar a criação de bosques no meio do areal, levando inclusivamente à colocação de mesas e bancos em betão destinados a piqueniques, os quais continuam ali expostos a céu aberto sem qualquer resguardo de sombra e por consequência sem utilização.

Esses mesmos autores daquela medida sem precedentes alegaram que não podiam ali intervir (leia-se limpar) para não danificar o cordão dunar, quando se sabe que nunca existiu duna natural, pois trata-se duma concentração artificial e excecional de inertes devido à intervenção humana assente na construção e prolongamento do molhe norte da barra.

Decorrido todo este período de tempo, aquilo que se vê até hoje, não passa de mato selvagem, rasteiro e alguns pinheiros mirrados de meio palmo, sem que aos mesmos tenha sido assegurada a dignidade e a beleza que é devida a essa espécie arbórea.

Os defensores do mato no areal falam na biodiversidade ali existente, com comunidades de coelhos, pássaros e outras espécies animal, sabendo-se que qualquer infraestrutura urbana que deixe de ser cuidada e limpa, por ação prolongada do tempo, acaba sempre por ser invadida por vegetação, a qual arrasta consigo um maior ou menor concentrado de biodiversidade embora tal facto não possa configurar um crime de ordem ambiental caso se entenda pela sua limpeza.

A praia da Figueira da Foz, é um praia de cidade, inserida num meio urbano, obedecendo a estritas observâncias de ordem sanitária em defesa da saúde pública da população residente e visitante, não se compadecendo com omissões ou desleixos de limpeza que permita a proliferação de vegetação rasteira sem controlo, suscetível até de criar zonas de potenciais focos de insalubridade.

Termino, insistindo como já o fiz anteriormente, na elaboração de um projeto eficaz e consistente para o areal da praia da Figueira da Foz, mas que a cima de tudo dignifique a nossa cidade.

Figueira da Foz, 18 de junho de 2023

O signatário, Miguel Amaral

(Foto nossa)