Missiva de um figueirense sobre o areal da praia da Figueira da Foz que até deixar de ser limpa era considerada 'a Rainha das Praias de Portugal'!
Exmos
Senhores:
Há mais de 100 anos
a Figueira da Foz começou a ser conhecida pela sua praia que se
tornou em pouco tempo a principal estância balnear do país, ainda
na altura sem concorrência nacional, e que rivalizava com a Côte
d'Azur, Biarritz, Bayonne, San Sebastian e outras. Com
esta projeção fez crescer à sua volta o imobiliário (com a
criação do Bairro Novo), a hotelaria, restauração, o comércio e,
consequentemente, o lazer.A marca Figueira da Foz perdura
passado todo este tempo, assente na sua beleza natural, no bonito e
esplendoroso areal da praia envolta pela baía oceânica ladeada pelo
Rio Mondego e Serra da Boa Viagem, continuando a ser, hoje em dia,
uma referência turística nacional e internacional, por onde passam
anualmente milhares de turistas, movimentando-se milhões de euros e
dando emprego a milhares de pessoas.
É graças à sua
excelente localização, ao seu ameno clima, e à sua magnífica
praia urbana, que a Figueira da Foz continua a ser uma das praias
preferidas dos portugueses, espanhóis, e demais nacionalidades. E
assim tem permanecido, na senda do progresso e desenvolvimento, com o
poder autárquico a responder da melhor forma a todas as solicitações
para que a sua praia continue a ser classificada como a Rainha das
Praias de Portugal.
No entanto, há sensivelmente uma
década, os figueirenses foram confrontados com uma incompreensível
decisão por parte do município que, de um dia para o outro, decidiu
que o areal não devia continuar a ser limpo. Com efeito, pela
primeira vez, em mais de cem anos, a Câmara Municipal entendeu não
proceder à limpeza do areal, limitando-se a intervir naquilo que
chama a zona de banhos, deixando de limpar não por um motivo
específico e concreto, mas que se sabe, por alegadas razões de
natureza financeira, no sentido de pouparem algumas centenas de
milhares de euros.
A comunidade local e visitante
reagiu e, num espaço de tempo pouco superior a 15 dias, recolheu
mais de 4000 assinaturas fisicas (e não online) num abaixo assinado
que se opunha à decisão da não limpeza do areal, o qual foi
entregue de viva mão ao senhores presidentes da Câmara Municipal e
da Assembleia Municipal.
E desde essa altura o areal, que
sempre se tinha apresentado como um ex-libris da cidade conhecido
pelas famosas areias douradas, perdeu toda a sua resplandecência,
passando a ficar com uma imagem suja, coberto por uma vegetação
rasteira, com um impacto visual extremamente negativo, ao ponto de,
nos eventos mediáticos realizados na cidade, as cadeias televisivas
evitarem filmá-lo tentando encobrir o estado desolador a que o mesmo
está desde então votado.
Não é aceitável
que uma praia urbana não seja objeto de limpeza há mais de dez
anos, onde a vegetação que ali cresce não acrescenta qualquer tipo
de valor ou vantagem, como aliás decorre do ultimo parecer da APA
que refere que toda aquela mancha de origem
vegetal poderá ser totalmente removida, pois não cumpriu as suas
funções que lhe foram destinadas.
É que os autores daquela
inusitada decisão, quando confrontados com o descontentamento
público pela falta de limpeza do areal, tentaram justificar o facto
por se encontrar em curso um projeto de criação de zonas
arborizadas com corredores de sombra entre a beira mar e a marginal,
tendo na altura encharcado a marginal com cartazes propagandísticos
a anunciar a criação de bosques no meio do areal, levando
inclusivamente à colocação de mesas e bancos em betão destinados
a piqueniques, os quais continuam ali expostos a céu aberto sem
qualquer resguardo de sombra e por consequência sem utilização.
Esses mesmos autores daquela
medida sem precedentes alegaram que não podiam ali intervir (leia-se
limpar) para não danificar o cordão dunar, quando se sabe que nunca
existiu duna natural, pois trata-se duma concentração artificial e
excecional de inertes devido à intervenção humana assente na
construção e prolongamento do molhe norte da barra.
Decorrido todo este período de
tempo, aquilo que se vê até hoje, não passa de mato selvagem,
rasteiro e alguns pinheiros mirrados de meio palmo, sem que aos
mesmos tenha sido assegurada a dignidade e a beleza que é devida a
essa espécie arbórea.
Os defensores do mato
no areal falam na biodiversidade ali existente, com comunidades de
coelhos, pássaros e outras espécies animal, sabendo-se que qualquer
infraestrutura urbana que deixe de ser cuidada e limpa, por ação
prolongada do tempo, acaba sempre por ser invadida por vegetação, a
qual arrasta consigo um maior ou menor concentrado de biodiversidade
embora tal facto não possa configurar um crime de ordem ambiental
caso se entenda pela sua limpeza.
A praia da Figueira da Foz, é um
praia de cidade, inserida num meio urbano, obedecendo a estritas
observâncias de ordem sanitária em defesa da saúde pública da
população residente e visitante, não se compadecendo com omissões
ou desleixos de limpeza que permita a proliferação de vegetação
rasteira sem controlo, suscetível até de criar zonas de potenciais
focos de insalubridade.
Termino, insistindo como já o fiz
anteriormente, na elaboração de um projeto eficaz e consistente
para o areal da praia da Figueira da Foz, mas que a cima
de tudo dignifique a nossa cidade.
Figueira da Foz, 18
de junho de 2023
O signatário, Miguel Amaral
(Foto nossa)