21/05/23

Festas de São João na Figueira da Foz

O dia 24 de agosto foi o feriado municipal da Figueira da Foz de 14 de junho de 1911 a 12 de junho de 1929.Comemorava-se então a eclosão da revolução liberal no Porto, a 24 de agosto de 1820, na qual o figueirense Manuel Fernandes Tomás tivera um papel decisivo.
Mas, em 1929, em plena “ditadura nacional”, a Câmara Municipal, dirigida por uma Comissão Administrativa presidida por Melo Cabral, deliberou que o dia de S. João passaria a ser o feriado municipal.

Celebra-se a 24 de junho, dia do nascimento de S. João Batista, o santo que batizou Jesus Cristo nas águas do rio Jordão, o santo protetor dos casados e dos doentes.

Reconhecemos S. João Batista pela sua veste de pele de camelo, quase sempre junto a um cordeiro, imagem que evoca Jesus, o Cordeiro de Deus.

As festas de S. João comemoram-se na Figueira muito antes de 1929. No final do século XIX a Comissão de Festas de S. João colocava coretos na Praça 8 de Maio, na Praça do Comércio e na Rua das Rosas, para neles tocarem as filarmónicas figueirenses.

Colocavam-se postes nas praças e na rua das Flores, queimava-se fogo preso na Avenida Saraiva de Carvalho e o coreto da Praça 8 de Maio permanecia até ao fim da época balnear.

Em meados do século XX as festas de S. João iniciavam-se na manhã do dia 23 de junho, com uma festiva alvorada com salvas de morteiro e “Zés Pereiras”.

Na noite do dia 23 havia a concentração e desfile das Corporações de Bombeiros, com as suas viaturas e demonstrações com o material motorizado. A noite continuava com um grandioso arraial no Mercado Engenheiro Silva, fogueiras, concertos musicais, exibição de ranchos e danças populares nas ruas da cidade, terminando com uma fantástica sessão de fogo de artifício.

“Ao início da noite o polícia Baptista regulava o trânsito, o Jáime vendia “O Século” e o “Taxeira”, o “Palhinhas”. No jardim, a Sofia fazia as pipocas e muitos saboreavam um gelado do Chico!”.

Na madrugada do dia 24 havia o tradicional banho santo, a procissão e a bênção do mar, e à noite continuava o arraial no Mercado, os concertos musicais, os ranchos e as festas no Casino.

O banho santo da Figueira, bem gelado em 24 de junho, liberta-nos de todos os males, pelo que noutras localidades se realiza a 29 de agosto, um banho bem mais quente, comemorando a data em que S. João Batista faleceu, na Galileia, degolado, a mando do governador Herodes.

As festas de S. João prolongavam-se pelos dias seguintes, com exposições, conferências, provas automobilísticas, festivais de folclore, atividades desportivas, a eleição da Rainha do Mercado, os cortejos de filarmónicas e de carros alegóricos.
Missa e Benção do Mar a partir do Posto de Turismo na Esplanada
Em 1929, ano em que foi instituído o feriado municipal a 24 de junho, começaram a efetuar-se os bailes de S. João dentro do Mercado Municipal.

De 1940 a 1960 os bailes de S. João atingiram grande popularidade, tendo sido frequentados por imensas pessoas, algumas vindas em excursões de vários pontos de Portugal, e mesmo de Espanha.

O baile do Mercado era conhecido pelo “baile das cebolas”, o “baile das couves’” e o “baile dos magalas”. E o Mercado, nessa noite de 23 para 24 de junho, era apelidado de “cabaret da couve”.

O baile do Mercado era frequentado por imensos magalas fardados, porque a Figueira tinha então dois grandes quartéis, o CICA 2 e o RAP 3, que nas noites de S. João conseguiam autorização para uma ‘noite alargada’.

Em alguns anos chegaram a realizar-se três bailes seguidos, nos dias 22, 23, e 24 de junho, sendo o mais frequentado o da noite de 23 para 24.

A entrada para o baile fazia-se pelo portão do lado do rio e tinha um preço quase simbólico que servia para pagar a orquestra, que quase sempre era a do “Quiaios Clube” com o vocalista Victor Melúrias.

Chegada a madrugada, os magalas aninhavam-se debaixo das bancas, a dormitar, e como a fome apertava, iam estendendo uma mão mariola por debaixo das tendas que cobriam as bancas, e lá vinha uma maçã, uma pera, uma banana ou outra fruta qualquer para matar a larica que começava a apertar.

Por isso, alguns donos de banca dormiam no mercado, de modo a evitar abusos maiores!

Após o 25 de Abril de 1974 fecharam os dois quartéis na Figueira, e assim acabaram os soldados e a designação de ‘o baile dos magalas’, e os bailes de S. João no Mercado nunca mais se realizaram.

Nessas noites ardentes de S. João, vários namoricos surgiram e muitos casamentos se efetuaram:

“Adeus mãe, vou à Figueira/Visitar o S. João/Que já casou meu avô/ E meu pai e meu irmão”.

E as melhores quadras são-joaninas eram escolhidas em rigoroso concurso:

“Romeirinha de olhos pardos/Vem acender o meu lume/Não queiras ser como os cardos/Que morrem sem dar lume”.

“Eu hei de ir ao S. João/Ao S. João da Figueira/Sempre agora quero ver/Se lá arranjo quem me queira!”.

Atualmente as festas de S. João continuam bem animadas. No dia 23 há concertos musicais, marchas populares na Avenida 25 de Abril, arraiais populares em diversas ruas, um espetáculo piromusical e o tradicional banho santo na madrugada do dia 24.

O dia 24 continua com a abertura da Feira das Freguesias, muitos concertos musicais e o desfile das marchas populares no Coliseu.

O S. João é a festa principal da Figueira. Uma festa com muitas diversões, jogos, pirotecnia, marchas populares, arraiais, concertos musicais, o banho santo, a entrega de distinções honoríficas, muita comida, cerimónias religiosas, a procissão e a bênção do mar.

(Historial de Fernando Curado no Facebook)