* Na Sessão de Câmara da Figueira da Foz de 31 de outubro, o figueirense Miguel Amaral, sempre atento ao que se passa na sua cidade, leu um texto onde teceu várias considerações relevantes sobre “o que entendo que está mal, mas também do que acho que está bem no nosso concelho, e mais propriamente nesta cidade que me viu nascer” e que reproduzimos aqui:
“Começo pelo espaço mais representativo da Figueira da Foz, a Praia da Claridade, que tão abandonada está nestes últimos anos, e a necessitar urgentemente de limpeza em toda a sua extensão, e não em parcelas. Aquela imagem de vegetação rasteira, e seca, em nada dignifica aquele espaço. Não são só palavras minhas, mas também de quem nos visita. Em 26 de maio de 2015, eu e o dr. Carlos Alexandre Tenreiro organizámos um 'abaixo assinado' solicitando para a necessidade da limpeza da praia, que recorreu mais de 4000 assinaturas, e que foi apresentado numa secção publica nesta Câmara Municipal dirigida na altura pelo Dr. João Ataíde das Neves.
Além da limpeza, de que forma se poderá reconverter todo aquele extenso areal, e criar todas as condições para que a Praia da Claridade possa voltar a ter a dignidade que sempre ostentou.Gostava de referir que devido aos seus quase 1000m de extensão, a “Praia da Claridade “ deixou praticamente de ser frequentada por pessoas de idade e crianças.
A Câmara Municipal este ano, para colmatar esta deficiência, adquiriu uma viatura elétrica para transporte destas pessoas, e que desde já me congratulo, mas nunca será suficiente.
O excesso de dimensão da praia não é recente, e foi como todos nós sabemos, provocada pela construção dos molhes que delimitam a entrada do porto.
Na altura da sua construção, era uma obra prioritária para a segurança de todas as embarcações que demandavam o nosso porto, mas a questão da praia não foi devidamente acautelada pela equipa técnica que acompanhou a obra, e o mesmo se passou já em 2010, com o prolongamento de 400m do molhe norte que fez com que a extensão da praia continuasse a aumentar.
Ao longo de todos estes anos tudo aconteceu, até um “Concurso de Ideias” promovido por uma entidade pública local em que um dos projetos contemplava um bizarro casino na praia!
Na minha opinião, a reconversão da praia passará por uma solução simples, rápida, e possivelmente pouco onerosa. Construção de uma 2º avenida paralela à Avenida 25 de Abril, passando esta a regime pedonal, e transito local. No meio das duas avenidas seriam criados parques de estacionamento, zona de restauração, e de lazer.
Para os que se preocupam com a subida da água dos oceanos, inviabilizando esta intervenção, muitos ainda se recordam em pleno inverno do mar a “galgar” os muros da avenida, e para que isso voltasse a acontecer com este extenso areal, a faixa costeira portuguesa desapareceria do mapa!
Encerrando este capitulo da Praia da Claridade, faço um novo apelo para que se termine com aquelas nomenclaturas (que só baralha quem nos visita) de Praia do Molhe Norte, Praia do Relógio, Praia da Bola Nívea, Praia do Viso (até o Viso já tem praia!!) Praia da Ponte Galante, e até já falam na Praia do Cabedelinho, que nunca existiu, nem nas cartas militares que sempre foi chamado de Cabedelo.
Mas não ficamos por aqui, pois temos outra: Será sempre Piscina Praia e não Piscina do Mar, equipamento este encerrado à vários anos, e que na altura servia uma população diversificada entre as as quais as tais pessoas de idade e crianças. E que se respeite de uma vez por todas a memória do seu obreiro, o comendador Augusto Silva, e do seu arquiteto José Isaías Cardoso, este último que uniu a cidade para comemorar o centésimo aniversário do seu nascimento.
Para se tentar terminar com este imbróglio de concessões em cima de concessões, sugiro à Câmara Municipal que pondere a possibilidade de dialogar com o “Grupo Accor” proprietário do Grande Hotel Mercure, pois este poderia ser de vital importância para o crescimento daquela unidade hoteleira.
Uma zona que me é particularmente grata é o Bairro Novo, epicentro do nosso turismo, que merecia um pouco mais de atenção por parte do Município que nos últimos quinze anos pouco investiu, cabendo esse ónus exclusivamente aos privados que continuam com enorme esforço a acreditar nas enormes potencialidades deste local da cidade. Onde o município tem de implementar mais animação fora da época sazonal, à semelhança do que fazia anteriormente a Associação de Dinamização e Promoção do Bairro Novo.
A substituição de toda a iluminaria em led foi um excelente investimento, que valorizou o edificado, bem como criou junto dos frequentadores um clima de mais segurança. Continuando, sugiro que em períodos mais movimentados (sunset, mês de julho e agosto, etc.) se coloquem equipamento de higiene nas zonas mais frequentadas pois os jovens servem-se de qualquer parede para fazerem as suas necessidades fisiológicas, originado um forte odor que se mantém ativo por longos períodos de tempo.
Congratulo-me com o inicio das obras de recuperação do Edifício do Trabalho depois de longos anos de espera, bem como da demolição do antigo Patronato de Nossa Senhora do Rosário (Colégio das Freirinhas) que, segundo sei, irá ser transformado numa zona habitacional, e sugeria ao Senhor Presidente que negociasse com os promotores a cedência de uma área de estacionamento para servir os utentes do mercado municipal e, porque não, a construção de uma passagem inferior de acesso entre os dois espaços.
Li na comunicação social que há o propósito de construir um parque subterrâneo em frente ao Mercado Municipal, mas alerto que a última intervenção efetuada na área não correu de feição.
Necessário também reforçar a reparação e limpeza dos passeios e ecopontos, e antes do verão pintar as passadeiras e iluminá-las convenientemente pois atualmente grande parte delas são um perigo para peões e automobilistas principalmente quando chove.
Termino esta minha intervenção sobre o Bairro Novo, solicitando ao Departamento de Urbanismo que não permita a demolição de imóveis em pleno mês de agosto.
E por falar em obras, destaco a continuação das intervenções no núcleo antigo da cidade, que tão má memoria trouxe aos moradores e comerciantes, e onde ainda falta concluir, segundo sei, 50% a 70% da empreitada. Local muito sensível devido à sua morfologia, apelo a uma ação vigorosa da Câmara Municipal para a sua rápida conclusão.
E como estamos (como se diz na gíria popular, “com a mão na massa”) pensar em melhorar os acessos à marginal na zona da Rotunda do Pescador em Buarcos, completamente estrangulados, começando por diminuir a volumetria da rotunda. E terminar a 2º fase da obra, que envolve a conclusão da ciclovia, novos parques de estacionamento, zonas de lazer, etc, mas com menos pedras, e mais vegetação. Falo concretamente do Largo Dr. Fernando Traqueia que conseguiram desfigurar!
Continuando para norte, alerto para a falta de areia na zona da Praia da Tamargueira até à zona de subida para a Serra da Boa Viagem.
A Câmara Municipal, e muito bem, adquiriu recentemente o edifício e terrenos adjacentes da antiga fabrica de cimento da Cimpor. Investimento significativo para os cofres da Autarquia que rapidamente poderá ser rentabilizado através da cedência daquele espaço a um grande grupo hoteleiro para a construção de uma unidade de cinco estrelas, em que a memória do Cabo Mondego como Monumento Natural e Jurássico, poderá e deverá ser preservada, bem como o manancial histórico daquela unidade fabril. Temos no nosso País e aqui bem perto, um excelente exemplo que é a unidade hoteleira do Grupo Visabeira, em Ílhavo, que soube valorizar a riquíssima historia da antiga fabrica da Vista Alegre. Para a Figueira da Foz - destino turístico por excelência - a implantação de um equipamento daquela importância e localização iria contribuir para a valorização deste segmento de mercado que representa quase 10% do PIB nacional.
Parabéns aos antigos autarcas, Dr. João Ataíde das Neves, e Dr. Carlos Monteiro e ao atual presidente Dr. Pedro Santana Lopes, que souberam valorizar a encosta norte da Serra da Boa Viagem com recuperação da antiga estrada do “Enforca Cães”. Vistas magnificas!
Quanto à Serra da Boa Viagem, muito está por se fazer, e a Câmara Municipal tem que mostrar firmeza, pois o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas não é propriamente dono do espaço. Vamos unir esforços e tornar novamente a Serra da Boa Viagem um local aprazível para quem nos visita e para os habitantes deste concelho. Eu pessoalmente sou assíduo frequentador e não dispenso alguns piqueniques ao longo do ano.
E como estamos “nas alturas” permita-me discordar da pretensão de futuramente vir a implantar na zona mais a norte do concelho um aeródromo municipal, pois infelizmente a grande maioria dessas infraestruturas nacionais não servem os fins a que foram destinadas, pela escassez de voos comerciais de âmbito regional, servindo apenas para o estacionamento de aeronaves de combate a incêndios e permanecendo o resto do ano inativas. Como é do seu conhecimento, existe por parte dos autarcas da zona centro, um interesse cada vez maior na abertura da base de Monte Real ao tráfego civil. Creio que teremos que ir por essa via.
Descendo a Serra da Boa Viagem desloco-me em direção a Maiorca, e deparo com o edifício do Paço de Maiorca em total abandono. Até á data, foram investidos mais de 15 milhões de euros na sua aquisição e reparação, e como me foi dado a conhecer numa visita ao local, inserida numa iniciativa da Câmara Municipal, possivelmente ter-se-à que partir do zero. Os cidadãos questionam-se! E porque não alienar aquele património?
E antes da entrada na nossa cidade, impõe-se uma visita à Fontela, para apreciar o excelente cais de acostagem, obra essa realizada pelo Município, em parceria com a Administração do Porto da Figueira da Foz (APFF) e o Ginásio Clube Figueirense.
Com as margens do Rio Mondego ali tão próximas, seria de todo assinalável aproveitar as suas potencialidades para a implantação de novos equipamentos, que iriam servir as populações ribeirinhas, bem como o turismo náutico.
Destaco, valorizo, e felicito, a Junta de Freguesia de Vila Verde e o seu presidente, pela recuperação do Batel de Sal que finalmente cumpre as suas funções.
E para quando o Rio Mondego navegável até Coimbra?
Entramos na Figueira da Foz e deparo com um cenário deveras deprimente, e lamentável, que é o Cais Comercial.
Muito se tem falado na sua péssima localização , quando naquele local o indicado seria a implantação de um parque urbano com o devido prolongamento da Praça de Europa, tornando-se um dos locais mais aprazíveis da nossa cidade.
Agora o que está em causa é tentar melhorar todo aquele visual, que em nada abona a imagem da Figueira da Foz, com armazéns espalhados em toda a sua extensão, movimento de pesados com cargas e descargas, e alguns transportando de material ambientalmente perigoso. Recordo-me que à 20 anos aquando do seu primeiro mandato, V.Exa teve o cuidado de mandar plantar um coberto vegetal, que temporariamente pôs fim aquela imagem degradante.
E a saída da cidade pela Avenida Saraiva de Carvalho é uma autentica prova de slalom, que deverá ser melhorada.
Muito se tem falado nas obras de recuperação do Cabedelo, e nos quase 10 milhões de euros até à data investidos. Não conheço o projeto em pormenor, mas aquilo que me foi dado a apreciar, foi que aquela zona durante tantos anos ignorada pelos nossos responsáveis locais, mereceria uma atenção muito especial.
Além dos residentes locais, e dos praticantes de atividades náuticas, o Cabedelo quase que passa despercebido aos figueirenses, mas gostava de lhe dar conhecimento de um projeto da autoria do arquiteto Miguel Figueira apresentado publicamente (não consigo precisar o ano) em que previa a construção de um teleférico a unir as duas margens. Na altura recordo-me, que o mesmo teve pouca recetividade por parte do poder local, mas na minha visão tal empreendimento teria um impacto turístico deveras assinalável, pois a Figueira da Foz tem que marcar a diferença.
E o que fazer aos terrenos da antiga Foznave? Outra unidade hoteleira com a frente virada para o rio, uma marina privativa virada a sul, para a bacia do Cais de Pesca.
As acessibilidades do Porto da Figueira da Foz são uma questão deveras complexa que se arrasta desde os finais do século XIX, e sem fim à vista.
A Figueira da Foz carece de um equipamento de dragagens de uso permanente que possa colmatar tudo o que menos de bom foi realizado ao longo destas décadas, e que tanto já consumiu ao erário publico. E uma chamada de atenção aos técnicos, que a maioria das vezes se esquecem de ouvir quem realmente percebe do assunto, que são os seus utilizadores.
Felicito aqui a nomeação do dr. Carlos Monteiro para a APFF, que atendeu à vontade de muitos figueirenses, aproveitando para destacar o dr. Carlos Alexandre Tenreiro que foi a primeira pessoa nesta cidade a reclamar a nomeação de um figueirense para os quadros desse organismo, em plena campanha eleitoral para as eleições autárquicas em que o mesmo foi candidato. E agradeço também pelas “demarches” que V.Exa (PSL) efetuou junto da tutela.
E como se tratam de figueirenses, pergunto para quando a justíssima homenagem a dois ilustres cidadãos da nossa cidade, a cantora Maria Clara que tanto divulgou a Figueira com a 'Canção da Figueira' e 'Marcha do Vapor' e o Eng. António Duarte Silva ex autarca deste município?
Reforço esta questão, dando um especial destaque à comunidade espanhola, ultimamente tão esquecida, mas que de ano para ano nunca “olvida” a cidade que à décadas os acolhe, e que eles tanto apreciam. Reativemos as geminações criadas no tempo do Eng. Manuel Alfredo Aguiar de Carvalho, Badajoz, Ciudad Rodrigo, Salamanca, Cáceres, e pergunto “porque não criar outras?”
Mais algumas notas para terminar:
Em outubro de 2020 fiz referência da necessidade do antigo posto de turismo na Avenida 25 de Abril continuar aberto. Foi com muito agrado que constatei por parte do atual elenco camarário essa necessidade.
Aquando da finalização das obras de recuperação da Torre do Relógio, em 2014, solicitei por variadíssimas ocasiões ao dr. João Ataíde das Neves, a colocação da flâmula da Figueira no seu mastro principal. Faço novamente esse apelo, em honra da memoria histórica desta cidade.
Regozijo-me da forma como o dr. Pedro Santana Lopes lidou com o processo das obras da ponte Eng. Edgar Cardoso, e o compromisso que a IP manifestou junto da população. Espero que a embarcação solar chegue rapidamente, e que se comece a pensar de uma forma séria na deslocalização do Hospital Distrital para a zona norte.Porque não os terrenos do atual Centro de Formação da GNR?E para concluir, e tendo em conta a diversidade de assuntos hoje aqui por mim abordados, compreendo que VExa não dê resposta imediata aos mesmos, embora acredite que não deixarão de ser levados em consideração, e tomados como um singelo contributo de um figueirense que sempre se interessou e muito por esta cidade e este concelho."
Muito obrigado por esta oportunidade,
Miguel Amaral
Figueira da Foz, 31 de outubro de 2022