RIMAS E TEXTOS RIMADOS
DE IVO CURADO
*************************************************** DE IVO CURADO
“Figueira, a Avenida do tempo”
Figueira é
história.
É um mar que
acontece nos dedos doridos na casa onde vive o sonho.
É um rio de
pequenos barcos onde se amanhecem as calmas vindas do céu, com as almas mortas
de coração, de aves de notícias nadando nos pinceis de tudo que só é seu.
Em telas
encaixadas por meia dúzia de artistas, perduradas orgulhosamente por meia dúzia
de vinténs. Nela eu sou tão meu.
Para sempre nela
eu me ponho. Nela eu sou mais eu.
Almas de sonho.
Nelas eu me sonho.
Almas de céu.
Nelas eu adivinho o porquê de me sonhar no meu sonho. Embora me sinta meu,
sendo fiel a quem de lá me desceu.
Para sempre,
sempre nela eu me deixo, e lá me ponho, e, lá encontro o que em mim nem sempre
sei porque teimo e beijo.
O céu de fundo de avenida, que desce, jurando
ser a nossa prece, que fica eloquente por quem o achou e nele se mergulhou,
ficar, fica sempre, no resto que esqueceu que não sonhou. Sabem? A sua luz eu
vos dou.
Quem o escolhe ao longe, para ser presenteado,
por cada seu pressentimento, do seu recanto, do seu rebanho de estrelas
depostas ao vento, onde eu me canto, onde eu me encanto, no seu espírito
talentoso de cada recado, de cada remendo, de cada imaginário de praias sem
possível vento.
Retrata-nos na
alma aquela viagem energizada pelas luzes do vento.
Em cada canto.
Com cada canto.
Eu canto o vento.
Eu canto.
Avenida de perdas
de dois mil e treze metros.
Avenida de tapete
de diamantes, calcetados nas cicatrizes deixadas pelo tempo, banhada por
artistas, banhada nas viagens que fazemos pé ante pé cá dentro. Sim, nela somos
todos artistas. Eu, eu pelo menos tento.
Avenida de
portadas, avenida de janelas encaixadas em telas ornamentadas pela certeza que
empurram este ou aquela lá dentro…decomposta em átomos, em pontos conduzidos
por uma luz que no escuro, e, só no escuro conduz a mente pelo tempo.
É para sempre uma
música respirada pelo curioso vento. De quem a escolhe para recolher o que
sente, pois é na ausência que o mar vê a sua gente tentando viver, balançando
no que de facto há e não há, andando de trás para a frente na Avenida do tempo.
Brilha, brilhando
a noite, e nunca ninguém ausenta um só. Eu pelo menos tento.
Figueira conta
memória.
Pelos seus
declives onde se poisa o sol nascente.
Figueira é
história.
Seja qual for a
nossa trajetória, ela faz sempre dela a sua filha história. Sempre, sempre! Uma
só...sempre alma de memória!
Acreditem, sempre
lá estarei eu, vendo a Avenida do tempo, a construir o passeio onde descansará
para sempre a vossa memória, pelas marés desculpantes do nosso, tão nosso
contratempo ou tempo, história!.
Figueira volta
sempre á história de quem a deixou um dia na memória. Sempre!
Seja qual for o
impedimento. Acha quem a achou. Como nós, como de repente. Vitória!
E, estende sempre
a sua questão, na fragilidade de tinta da nossa caneta cara e ilusória,
aparecendo sobre a forma de criança brincando com cada nosso tostão, passeando
no amigo, o cão de passadeira, o cão do nosso desconhecimento da sua verdadeira
razão na nossa tal história.
É lá que se vê ao
largo, onde passam os dias que dividem o seu tempo de praia de abrigo de cada
um,
um deserto de
amarro.
Um e um.
Figueira por vezes
é contratempo, nela eu me tento.
Figueira por si é
passatempo, sempre nela me sento.
Tocam músicas pela
Avenida do tempo.
É lá a sua
vitória, de imiscuir cada anseio onde se passa a nossa trajetória.
E, onde se ouve o
curioso vento… perdidos na trança onde poisam os seus seios de mãe..
Onde eu agora me
sento.
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Na luz da nossa mais tão nossa calçada
empedrada de pedra dada de mãos gastas.
De favores em troca de simples nadas
passeamos nós de mãos quase dadas.
O amor destas pedras roliças,
meio ténues pelas calçadas..
tem-nos sustentado tantas tolices...
Sempre provenientes dos nossos tão queridos interiores de nadas.
Na mesma tolice vivemos todos,
Senão para que serviriam os poetas?
Se se mentem constantemente!
Para que serviriam os poemas?
Se são edificantes só de quem sente?!
Nem a chuva rouba-nos a nossa calçada!
É tão nossa quanto, somos todos de fachada,
É tão nossa quanto ela o mesmo quer ser pisada..
Por almas, por gentes, viventes de um simples e torneado gasto nada.
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“Último festejo”
Piso o descalço pela portada da maré dentro, deixo tudo,
ou tento, sempre para trás, lamento, que nunca, nunca tento… eu e ela fomos
sós!
A meio da descida, quando começo a perder os pés na
escova glaciar deste tormento,
rio, rio no que pesava e no que agora pesa cá dentro.
A pergunta que me vou fazendo, enquanto vou descendo
neste tão belo e estranho mar ,
não é porque teimo em querer nadar, mas sim porquê
demorei tanto tempo a querer-me perder, por ele, tento.
Sou humano, sou triste, sou mundano…
Sou todo eu, e, em todo meu, sonho um dia, um momento,
não de fantasia, não de vontade, de costas pelo vento, de costas para vós!
Amo-te tanto
verdade!
O meu sonho acabou tarde, por isso deixo-me escorregar
nesta areia que não me quer,
não sei se me rejeita, se se sente sujeita a ser dona do
meu escolhido cimento…Amei tal e qual a vida nos quer..
Já perdi os pés, não luto contra a estupidez de nunca ter
aprendido a nadar,
como tudo na vida, resumo esta falha como uma calha que
não encaixou no meu quadro, pintado de costas contra o mar, com todos os pés ao
tempo…Agi apenas com tudo o que valho..!
O mar…
O mar…
O mar…
Começo agora a afundar todos os nadas pelas correntes
passadas a remoer tantas incompreensíveis jornadas, sem sequer remar, de mãos
em mãos dadas…
Ao longe vejo uma flor, deixo-me ir abaixo, num gesto
brusco de dor, agarro-a e, não me julgo mais, nunca mais como cabisbaixo.
Eu? Jamais! jamais me acho.Jamais!
O sonho, o sonho, quando se sonha, é de dor de não o
termos escolhido.
O meu jeito de viver, a mim me disse respeito, escolhi
este mar, este castigo de não saber nadar, e, é todo meu, agora me respeito.
Agora sou eu.
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Cera
Encadeia me a tua luz,
no meio de tanta escuridão.
É forte e fosca,
mas não chega para
me tirar esta paixão.
És luz!
És vida!
Também ofuscada.
Também perdida.
Também sem solução.
Corremos de pontas
pelo mundo da perdição..
Tentamos perder a atenção
das luzes das janelas,
das luzes da razão..
Caminhamos descalços,
húmidos e
cúmplices..
Tentando viver a nossa paixão.
És luz fosca, e, assim eu
Vou te dando a mão.
Prometo que não apago a vela,
que deixámos para trás acesa..
É chama do nosso peito!
É luz da nossa alma!
É cera que nos cola ao chão!
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Existência
Raro penso na minha existência..
Fatal a minha crença,
que possuo algum tipo de valência
neste mundo de decência.
Arrebento com a corda
que me prende a este cenário.
De triste e estandardizada
agonizante comparecência,
onde reinos são de cada otário.
O mal também faz parte
do melhor cristão?
Do melhor ateu?
A nossa própria natureza?
Onde acredito eu?!
Triste, triste diário .
Construímos sempre uma
forte e inalcançável fortaleza,
para não nos verem em cadência!
Procuramo-nos sempre na ausência
Procuramo-nos sempre na ausência
Sempre munidos de artística decência!
Vulgo no nosso meio,
todo esta génese de gerência,
que dá ao mundo toda a sua
unificada e fatalista demência.
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"Velho
coliseu"
Tento afogar, ou melhor sendo sincero, com mero
dito pelo mero murro, com cada verbo explicar-te o que está para vir.
Com cada murro meu, tento empurrar, melhor sendo sincero, com uma lata riscar cada letra do teu nome que se cola em cada meu verbo.
Tento ser distante, ou melhor sendo, um cristão estreante, acabando com a noção, acabando cada conclusão, que começa e acaba no teu olhar de chão, que sempre espero, sabendo ou não cada sua razão.
Tento engraçar, ou melhor sendo sincero, olhar por entre tanto olhar,
que eu beijo,
que eu beijo, com as palmas da minha mão.
Com cada murro meu, tento empurrar, melhor sendo sincero, com uma lata riscar cada letra do teu nome que se cola em cada meu verbo.
Tento ser distante, ou melhor sendo, um cristão estreante, acabando com a noção, acabando cada conclusão, que começa e acaba no teu olhar de chão, que sempre espero, sabendo ou não cada sua razão.
Tento engraçar, ou melhor sendo sincero, olhar por entre tanto olhar,
que eu beijo,
que eu beijo, com as palmas da minha mão.
Que eu vejo, e, sem a noção espero, sem o meu eu na tua
poção, onde cruzo marés e encontro lamirés contigo, como eu, como tu, como o
meu antes dos teus olhos navegantes..
O meu eterno
amor, a tua eterna razão…deram cor a este coliseu, deram alma, deram vida, e,
assim ele viveu..como ontem, como hoje, como para sempre, o pó deste chão.
Tento conhecer, ou melhor sendo, numa manhã adormecer,
ver te no teto e perceber o que vai nesse chão, cada seu sim e cada seu não.
Tento saber o que significa amar um pretérito, passear a tua mão nas calvas da minha mão.
Tento apanhar chuva, fria e galopante, fria e distante, vivi o meu eu, sendo tudo e sendo meu.
Amando tu tanto
o meu eu…e eu amando abri-lo todas as manhãs como sendo teu..!
Velhinho, como hoje sou, eu vi uma flor de quem me
amou, com picos selvagens e com as tuas aparagens, de termos sido sempre nós,
entre cada gota que caiu, e que um de nós lá se esforçou e esquentou.
Tento explicar-te, que cada passeio meu em cada palavra tua menos sentida, funciona como uma bandeira sem guindaste, um quadro sem pista de arte, um roteiro perdido, perdido por toda parte…De encontros, de despedida!
Hoje será tarde demais?
Tentarei por nas entrelinhas dos anúncios, tentarei usar todas as minhas letras e não todos os teus incompreensíveis números.
Tento explicar-te, que cada passeio meu em cada palavra tua menos sentida, funciona como uma bandeira sem guindaste, um quadro sem pista de arte, um roteiro perdido, perdido por toda parte…De encontros, de despedida!
Hoje será tarde demais?
Tentarei por nas entrelinhas dos anúncios, tentarei usar todas as minhas letras e não todos os teus incompreensíveis números.
Que abusos!
Tentarei ser menos velhinho, e renovar o meu coliseu,
onde tu cantas e danças em tudo o que é só meu.
Virarei Romeu, chamarei outro nome a este velho coliseu?
Deus não diz mais do que te digo a quem ainda não morreu...
Curioso indexo de quem ainda nem tudo viveu, afinal hoje sinto nas paredes deste coliseu que fui sempre teu, só hoje às onze e meia da manhã o meu dia me percebeu.
Foi sempre contigo, e foi lá no teu umbigo que a minha alma sempre viveu.
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Virarei Romeu, chamarei outro nome a este velho coliseu?
Deus não diz mais do que te digo a quem ainda não morreu...
Curioso indexo de quem ainda nem tudo viveu, afinal hoje sinto nas paredes deste coliseu que fui sempre teu, só hoje às onze e meia da manhã o meu dia me percebeu.
Foi sempre contigo, e foi lá no teu umbigo que a minha alma sempre viveu.
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“Absinto tónico”
Ser, é nunca gastar todas as palavras..
É esperar que por elas próprias apareçam no nosso pouco,
quase pouco, meio troco.
É esperar que nos tirem das mãos as cordas já gastas, de
destino de Homem de mundo, de homem louco.
Emparedadas nas reticências feiticeiras de gira discos
que riscam
no que de nós mesmos fazemos pouco a pouco…
Mundo mendigo…Mundo oco.
É esperar que por elas, e nelas, amanheçamos no sonho de
viver, talvez
sem muito saber…
Amanhecendo no querer de sabermos tão pouco..
Sem muito saber….
Sempre tão pouco..
Nas suas páginas o mundo finda o oco…
Ser, é pintar as mágoas que nos fazem nascer.
Ser, é levantar aspas nas mentiras do viver.
É ouvir no silêncio, cada sua sussurra, cada sua
aventura,
de nos querer crescer no sempre…resplandecendo até no ser…será o quê o ser? Será pouco?
Ser, oh bastas, oh bastas!!
É cantar no senhor tempo as melancolias do nosso, tão nosso
destino,
sendo tantas as vezes, tão difícil poder ser só, sozinho…
É ferir as guitarras do ciúme, acesas ao lume do nosso
castigado brio..
Onde se perpetua o
sonho, onde se constrói o medonho..
É o desejo de ver nas estrelas o rasto do nosso alvoroço,
de cada caminho sempre perdido, noutro!
Sempre nossas tão pouco…
Porque eternizam nelas barcos de porto, ancorados nas
lágrimas das marés.
Sem marinheiros, cartas, bússolas ou lamirés…que leiam,
que norteiam,
o que de nós, nos é tão pouco.
Ser, é ter lábios de bailarina, beijando o que tu és…o
que tu és!
Num amor louco..
Num amor louco..
Ser, é conhecer todos os poetas, porque tu o és…
Sendo tudo, sendo outro...
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"Purgatório"
Dia em demasia ocupante, pintado
de luz sem possível capitão navegante.
Temperado por vozes de cores de
males de tabaco seco e esfusiante,
guardado no beco, urrado num eco, num dizer
adeus, que a vida nos cante.
Onde ecos, são becos de cada queixa, fazendo
tábuas deixadas
pela nossa perdida pista, da nossa improvisada
deixa, pelo significado de viver na cruz ou no que seduz, a nossa tardia
conquista.
Cruzado por ser recalcado, onde tudo é
enfeite, e por si só julgado.
Quem e lá se deite. Que bela e surreal besta
de deleite.
Dia que passou, percebendo ou não, o que se
passou, na verdade foi um dia, mais um dia que a terra tentou.
Dia pisado na terra, se for na promessa vista,
de todo o esperançado, sendo por si próprio augurado, e assim sendo, julgado
absentista.
De cada eleito ou feito nas cordas da vida
artista, que pisa o breve, o breve da loucura, o breve da vontade de ser ou não
altruísta. Na sua alma não se jure.
Na sua alma está o lume de pássaros de crista.
Pelo que canta, a ilusão lá desencanta, no seu
único fado de conquista, o porque de não ser sincero o motivo do choro
das pedras que pisamos,
quando com mais nada nos damos, não tendo
sentido esta vista.
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“ O jardim das Mortalhas”
É forte o vento, onde eu escuto a melancolia, não queria perdurar na muralha cá de dentro. Não tenho medo da chuva, tenho sim de quem lamento.
Triste dicotomia, de olhar para um novo dia, amando não ser nesse, o teu tempo. De cavalo de pau, com a minha rosa na boca do vento.
Sussurro na língua do que tento, saem falas sem possível, nem plausível talento.
Urro com alegria, de não ser este dia, que já não me tento.
Passo no castelo ainda por acabar, os meus pesados dias de sangue escorrido nos tapetes desculpantes, de sermos tão principiantes na dor de eternos pedantes.
Ninguém consegue pô-lo mais belo, ai este castelo, onde me vejo tão belo.
Na cidade mais bela, o castelo onde me sento. E tanto me quero.
Aqui também á lua, e, é tão linda, de cima deste pedaço de favor tão belo.
A professora que teima ficar lá de fora, sentada no outro lugar, onde penso nunca haver mais espaço para o que eu possa sentar, tem o estranho nome de vida.
E, embora eu não saiba o que faz lá fora, percebo por vezes, que é a única que se consola ao verme ser, o pequeno homem com vontade de ver a hora, onde todos os ponteiros vão bater.
Deito-me agora na minha mortalha, que guardei no jardim deste grandioso aqui, esse tão pequeno agora, no chão, no pecado a que deram o nome de razão.
Onde voam questões e ilusões ecoadas de tempos de só ser.
Sou feliz, tenho tudo, e nada tento.
------------------------------------------------- “Neuro hotel”
Passo entre passo.
No que passo, não é questão.
Passo e passeio em cada rosto de falas frias, só com meias calmas vestidas,
soterradas por doses de dias, onde reinam vozes de chão.
Em cada rua, em cada antigo ou novo constructo, que de tão postulado, quis se vão.
Piso cada dia, com toda a questão, esta triste dicotomia, vendo o que sou e o que faço…que volta de roteiros sem perdão.
É como um bálsamo muito caro, e, para esse bolso, eu não ponho a minha mão.
Cada reticência pseudo almejada, cada folha de uma árvore resgatada, em gestos de música sem arpão. Constroem mais uma escada que eterniza onde eu teimo noutro passo, sem o que passo, ser verdadeiramente a questão.
Cada passo,
cada deposta pedra roliça do chão,
são como dois irmãos que escolheram ter o mesmo lugar, a mesma pessoa, a mesma comunhão.
Do que realmente os dias de mim e a mim são.
São passos, meros passos, sendo o que passo, nunca a questão.
Eu perco, sempre acho que passo noutra jura de mão, que escorrega num neuro hotel, outro qualquer espasmo vão.
E, no que ganho, com um abraço mando pelo chão.
No que sinto, visto sem rigor, é sempre esse o meu único ato digno,
de simplicidade como sou eu emoção.
De passear passo entre passo, sem o que passo ser nunca a questão.
No que valho…é fossilificado nos búzios que vão aparecendo,
e aprendendo a esconder a sua marca pelo chão.
Tudo uma complicada ilusão.
Hum, hum, hum, que tomba que sou então…Neuro hotel, que questão!
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“Bilhete”
Tenho um bilhete, de caminho ainda não percorrido por ninguém, de dado sorteado, sem lançamento, porém.
Tenho um bilhete, de caminho ainda não percorrido por ninguém, de dado sorteado, sem lançamento, porém.
De pulmão fumegado, de dedo mindinho furado, quase e bem.
Tenho um bilhete, de um dia de caminho de caminhante ajoelhado, de coração bombeado nas correntes de momentos a sós e com dós, sem futuro nem passado, de um todo destino nunca a nós mesmos dado, mas que dós, mas que estado!
Eu tenho um bilhete, e, não voltarei a ser o seu caro amigo tão caro.
Na ilusão de ser o único nomeado, no bilhete aqui por mim encontrado, tenho um bilhete.. tenho um dia a vir a ser memorizado, quem sabe um retrato a vir a ser perdurado nas paredes do meu legado, existente apenas no imaginário do vosso eu soletrado.
Em todo o meu império de soluços viscerais, guardo num eco o beco, duma pequena voz bem distante, de ser só num pequeno gesto que se torna gigante, tornando-me eu no seu único ser rastejante.
Eu tenho um bilhete...eu?
Eu tenho um bilhete, irei por finalmente a algum lado, folgo de presente de no presente não ser presenciado.
Tenho um bilhete, tenho uma carteira quadrada, gasta e amarelada, feita de restos e pétalas únicas de barro de palma de mão gretada.
Na carteira afamada esconderei a chuva de pedras arrefecidas na minha mente, com o bombear tão esquerdino, quanto o meu não na vida presente.
Tenho um bilhete, e, se um dia sair com ele, pois sairei no dia em que for rei, sem palacete ou qualquer tipo de balancete, sem amigos nem lei.
Quero-me esse presente, viver vida só de gente, obrigado, não! Que tortura indecente.
Gente tão louca na docência de paredes com cada teto cada vez mais ausente, sem chuva que bata lá sempre, como uma semente, como uma torneira que abra o silêncio de cada corrente.
Tenho um bilhete, de quem ama, de quem siga, de quem pare, e de quem diga.. de quem some, de quem fere, de quem morre, sem que eu próprio o lamente.
Eu tenho um bilhete, a vós nele um dia quem sabe me sortearei, sem totalistas, sem trapezistas, sem gralhas, sem lei. Num dia de vós, em vós mesmos chegarei.
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“O sono dos sonhos” Eu tenho um bilhete...eu?
Eu tenho um bilhete, irei por finalmente a algum lado, folgo de presente de no presente não ser presenciado.
Tenho um bilhete, tenho uma carteira quadrada, gasta e amarelada, feita de restos e pétalas únicas de barro de palma de mão gretada.
Na carteira afamada esconderei a chuva de pedras arrefecidas na minha mente, com o bombear tão esquerdino, quanto o meu não na vida presente.
Tenho um bilhete, e, se um dia sair com ele, pois sairei no dia em que for rei, sem palacete ou qualquer tipo de balancete, sem amigos nem lei.
Quero-me esse presente, viver vida só de gente, obrigado, não! Que tortura indecente.
Gente tão louca na docência de paredes com cada teto cada vez mais ausente, sem chuva que bata lá sempre, como uma semente, como uma torneira que abra o silêncio de cada corrente.
Tenho um bilhete, de quem ama, de quem siga, de quem pare, e de quem diga.. de quem some, de quem fere, de quem morre, sem que eu próprio o lamente.
Eu tenho um bilhete, a vós nele um dia quem sabe me sortearei, sem totalistas, sem trapezistas, sem gralhas, sem lei. Num dia de vós, em vós mesmos chegarei.
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Gravo o tom de sonhos..
De onde não acordo, por onde me desfaço,
de Odes onde me vejo e onde me refaço.
Por não ser nem no sonho,
o sonho de ser meu.
O sonho dum terraço eternamente abandonado,
leviano e crasso.
Sem nenhum traço,
sem nenhum pedaço,
sem nada do que faço,
sem nada do que é meu.
Na verdade o sonho é a minha personificação,
e, num processo tão complicado não gasto sequer um tostão.
Tudo o que eu faço,
por tudo me desgraço.
Por ser no meu sonho que eu quero viver,
a arte de viver, nessa arte de renascer.
Todos dias neste terraço onde largo o que há em vão,
e, construo mais uma ou outra questão.
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“ A carta ”
A força das marés,
não se mede com a brusquidão que sentimos a lés,
mas sim como elas acabam por vir devagarinho a molhar as pontas dos nossos pés.
O arrastão das marés,
mostra que até quando tudo se desmorona,
aparece sempre um curioso ser a tentar amar-te e perceber-te como tu és.
A lua que tu usas para controlar as marés,
é a mesma que devias olhar e amar com tudo aquilo que és,
afinal, esses cálculos que usas, pouco valem para a beleza que és.
Agora tu estás numa paragem, e eu, perdi a minha margem.
Este estranho amor, que respiro no dia-a-dia, virá para ti um dia no cheiro duma flor, na verdade no Mundo há poucas para aquelas que eu te queria.
Por isso nunca te dei nenhuma, eram poucas, muito poucas, e nenhuma te resumia.
Sei e sinto muito, o quão te magoei com tanta palavra, na verdade foi na tristeza do ciúme que vi e percebi que tu confiavas em mim, e, eu perdi esse voto, e por isso, ando todo absorto de ideias por ter o coração tão roto.
Tu nunca percebeste o porque de muitas das minhas palavras, hoje digo- te, comecei a chamar- te nomes quando começaste a nomenclar-me de você, e, quanto mais você tu punhas na meia dúzia de palavras quase monossilábicas, que de vez em vez proferias, mais nomes eu te chamava.
Usei palavras feias para ti, mas também não conheço nenhuma dita bonita, que seja exequível para te traduzir a beleza que tenho e guardo de ti.
Aqui a sua inteligência, de inteligência pouco tem, sou um ser por demais emotivo.
Foi assim que te perdi, perdi a minha margem. Sinto-me um ratinho faminto num labirinto.
Na calma das minhas noites, jurei a mim mesmo várias vezes não te dizer mais nada, mas, as palavras valem o que valem. E eu, não tendo nada para te dar, nenhum materialismo, nenhum tracejado de vida que tu possas adornar na tua forma tão linda e única, ainda adormeço a olhar para a lua, com a minha cabeça na almofada com o teu nome.
Às vezes penso que o teu nome é lindo demais para uma almofada, que essas sílabas agregadas são muito mais que um depósito onde eu encosto a cabeça, e onde adormeço os sonhos. Noutras, penso que tenho uma bela almofada, pois, olho para ela e vejo a tua cara, o meu grande sonho.
Chegaste a dizer-me várias vezes que eu não gostava de ti, que era uma ilusão minha, ou que a vida não era amor e uma cabana.
Pois olha, sempre quis ter uma cabana, e quero, já amor tenho muito, mesmo muito.
Espero que sejas muito feliz, seria falso se não te dissesse que ando triste, mas a vida, do pouco que me ensinou, ensinou-me que nós não pertencemos a ninguém e pertencemos a toda a gente.
Sabes bem que pouco me importa o que possas pensar de mim, mas como com a tua pessoa, eu penso assim em relação a todo o mundo, porque eu sou assim.
Creio que tenho um mundo só meu, e nele só habita quem eu amo, e, quem eu amo é meu. Só meu. É assim.
Dói o estado que ficaram o meu ar e o teu chão. E quero, quero muito que para sempre, fiques com um cantinho meu, pode ser pequenino, pode ser escondido, mas meu. Meu.
É só. Às vezes na almofada chego a pensar que me amaste, mas num amor diferente, um amor de razão, obrigado se isso é verdade, obrigado mesmo. E, obrigado se não.
É só.
As palavras valem o que valem, e eu nelas, fui teu um segundo.
Ah! Estou a construir com a saudade um sem fim de números, mas não sei, nem nunca soube usar essas calculadoras que tu usas, e, se algum dia eu precisar duma técnica de contas, eu chamo-te.Talvez aí, numa relação profissional como tu tanto gostas, e que eu tanto odeio, consiga dizer-te na cara, olhando para a curva acentuada do teu nariz, que divide os teus glóbulos oculares encaixados perfeita e simetricamente por hastes com lentes perfidamente limpas, que sou o empresário mais rico do Mundo.
Pois só vivo só de amor, e amor é todo o Mundo. É só.
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“O Castigo do perdão”
Tenho a alma tão negra e carregada,
como o borrão deste lápis, de ontem, de então.
Tenho os sentidos tão afiados quanto
o bico deste lápis de hoje, de cada sim, de cada não.
Escuro é o meu dicionário, com cada palavra nova,
para si caro Homem são!
Carrego em mim toda a malária,
de escrita á deriva,
de dedo na ferida,
de resumos de conversas sem visita.
De prato de iguaria cheio de gente dita pelo não dita,
escolhida mesmo antes de termos vida propriamente dita.
Escorrego pelo chão que me é tão meu,
como não,
que me agarra, que me solta,
que me passeia e que me aponta,
cada erro meu com a sua mão.
Tenho a alma aberta a toda e qualquer questão,
navegando de barca em barca sem castigo de perdão.
Sou todo um destino, todo o seu apertão...
Dá-me a tua mão!
Vamos lá então, onde se soerguem e se ressoam as barcas do castigo do perdão.
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“Nuvens de prata”
Esvoaçam no nosso espaço, regando o nosso por um dia terraço.
As nuvens, as nuvens que cobrem cada rua, onde eu te procuro,
onde eu me luto..onde eu sou tua...
Hoje estou mais perto delas, chamaram-me?
O consílio dos céus quer-me tentar convencer que ainda vale a pena do meu viver.
As nuvens nunca mentem, e numa lá subo eu. Até mais alto, bem mais alto...
Mais alto que o meu perder no que significa viver. De lutas de menina e de jogos de adulta, por não ser mais tua, e querer. Tanto que te quero, que na vida, só não perdi esse querer.
Aqui o ar é esquiço, aqui, todo o sentimento não se chora, não se contorna, não se comemora.
Aqui espera-se pelo tempo certo para se explicar o incerto. Aqui, são fiéis como mais ninguém, porém, com a vida aprendi que céu, só existe aqui no além. Daí aí em baixo haver tanto desdém. Nada se explica, e tudo convém.
Aqui explica-se o incerto das arpas de meninos que ficaram no eterno melancólico bem.
Nuvens de papel, feitas de diário semanal carregado, de água um pouco gelada, um pouco abençoada. Um pouco desgastada. Um pouco engalanada. Meu bem.
Nuvens rasantes de vida. Páginas de um mundo perdido. Linhas que matam, linhas de amor, meu querido. Linhas tracejadas pela nossa impotência de destino.
Onde salto de nuvem em nuvem que me passa. Às vezes pergunto-me, castigo?
Com o meu cigarro de prata mando uma baforada, e formo outra nuvem, a nuvem da minha popelina crassa…
A nuvem da minha traça. Eu juro, para sempre serei tua…
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"Taça"
Na solidão da minha
vide irão
Encho a minha pequena
garrafa
De polpa de ginja sem
graça
De genialidade
incoerente.
Na longitude do meu
chão
Vejo reflexos
Vejo gente
Fujo para outro lugar
Comigo levo a minha
garrafa
Nela encontro a sempre
fiel traça.
Dela encho a vossa taça
Até ao meu momento
final
serei poeta… presente!
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“Poesia, ideias outras”
Na verdade, existe ao todo três tipos de poesia.
A que se pensa.
A que se escreve.
E, a que se sente.
O resto são beijos de cordas nas palmas do desejo.
E, quem perdeu a sua história, a de conquistas de
alma no texto, é porque, na verdade nunca viveu a vida, morreu, é o que vejo.
A poesia mostra cada jura de alguém, de sempre e
para sempre, e, todo o seu amor, é todo seu texto.
Tudo que nos foge ao ler um poema, um pretexto de
texto, é o mesmo ingrediente que faz das gaivotas bailarem por cima dos abraços
das pontes, onde sempre, acaba por acabar um cada mar, seja ou não um faz de
contas. De presente.
A poesia espera nos humanos, toquem eles harpas ou
divaguem pianos, sejam eles livres nas tentativas, ou na sua própria escolha,
eleitos sopranos.
Na verdade existe três tipos de poesia, para mim, é
só olhar com ela cada novo dia, na liberdade com que se pintam as suas vírgulas
pelas nossas pontes, de cargas e recargas de tinta, de mil e uma folhas brancas
e eternos recantos…a vida pelos horizontes cantada ou não, somos os seus
senhores.
E, eternas
cinzas que riscam o que no depois, o passado queria motivar, ideias outras.
O resto, o resto é poesia, é o que vejo.
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“ O silêncio”
Se eu apenas vos disser, que a intenção, o intuito das
palavras, não tem uma palavra sequer que o defina.
Que vivemos na confusão de um início sem partida sempre
olhando a sua despedida, dando-lhe a mão.E, fugindo na sua fugida.
Se eu apenas vos disser, que cada vocábulo, antes de sair,
já saiu. E nós é que vamos a segui-lo…quão grande é isto?
Que as palavras são como um balão, tanto fervem na loucura,
como matam o vaso transladado de paixão.
Se eu apenas vos disser, que o amor não tem palavra.
Que tudo tenta ornamenta-lo com o intuito de não passa lo ao
lado. Nada.Nada.
Se eu apenas vos disser, que sei do que falo.
As palavras são palavras, e existem para nós termos
significado.
Só.
O resto são cicatrizes que buscam um penso, um penso nunca
achado.
Se eu vos disser, que as palavras são só palavras, e todo o
resto passa lhes ao lado.
Se eu vos disser o quão bom é não dizer uma, uma sequer, e
amá-la com as mãos no seu calo.
Que tudo se constrói, tudo se destrói, com palavras, com
tudo que arrastam, é o que vos falo.
Se eu vos disser, que a ação, é a última palavra do coração,
e que não é herói o que a usa, mas sim o que sabe da sua questão.
Se eu vos disser, que nada, nada é em vão, só quando se usam
as palavras para fugir às regras e às vírgulas do nosso coração.
Que agir nas palavras, tem o seu preço, e no entanto, nenhum
preço tem a sua conotação.
Se eu vos disser que nenhum preço tem paixão, a paixão nasce
do rio mais belo que arrasta tudo e todos na sua imensidão.
Que todo o rio tem o seu predador, e o quem o olhe para
perceber a sua dor.
Se eu vos disser que a regra das palavras mata o seu
esplendor.
As palavras valem o que valem, o resto, o resto quer-se
ecoado no nosso esplendor.
O silêncio não é tímido, é sábio de tanta dor.
O silêncio não é escondido, é o senhor do nosso grande e
único amor.
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"Aguarela"
Meto as mãos nos meus bolsos.
Apanho restos e resíduos dum dia de desejo.
Vejo o mundo numa tela com sons de aguarela,
e, com tanta música decorada, não me vejo neste solfejo.
Vivo dia após dia,
e, só nalguns me beijo.
Segredos de aguarela aguada de Cinderela pincelada,
com quadra ritmada presenciada,
no meu difícil e incómodo jeito.
Eu não me beijo.
Eu não me beijo.
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"Dois Pedaços de Terra Cega"
Estou esfalfado, perdido num poço,
de tão mal disposto, de dores de um eterno dorso.
De facto não me
disponho mais em gastos de palavras,
para vos mostrar o
rasto e o rosto do vosso próprio fosso.
Encontradas
libertinagens de almas,
sois vós gentes
encontradas no meu troço.
Que ignomínia o
meu dorso...
Não sei se direi,
ou se me limitarei
a compor mais uma ou outra lei,
ou a beber mais um
ou outro copo meu de Aqui Del Rei..
para que esqueçam o
meu rosto..e o seu gosto...
Estou vivo, estou
grato de desgosto..
O vento sopra o
meu corpo, e, ele lá o acompanha,
lá se escaqueira
por entre os muros do meu antigo sentido oposto..
Vai-se o meu corpo, ele e o e meu terra a terra desgosto.
Sozinho pontapeio uma pedra pela rua fora, lá vai ela e
não se demora.
Acaba por parar de bater já fora, onde a minha perna já
não comemora.
Na verdade, nós nascemos cegos, e, quando começamos a
ver, já estamos demasiado velhos para o tentar. E agora?
Hoje a pedra sou
eu, como me tornei? Errado feitiço alguém me concedeu!
Certo ou errado,
que sei eu?
Oh Deus da
matéria, estou sentado no meu rochedo, impávido e sereno,
e, com ele tenho
todo o teu medo, injusto e terreno, mas que enredo, mas que triste terreno abjeto
de segredo, de mim, de eu..
Sentado aqui no
plateau dos nossos acutilantes, desmedidos e desculpantes pequenos pedaços de
terra, pergunto-me eu: “Porque é que somos tão errantes?
Tão ocupantes de
ideias?
Tão drenantes de
matérias que nos matam, sendo nossas amantes todas as mães desta terra?”
Oh Deus, o que fui
eu?
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“O Palco Quarto Crescente”
Quis ser ator.
Sem perceber a verdadeira génese do teatro.
Pensava que cada ato não tinha de ser planeado, como que,
no palco, a empatia e a mútua admiração por um guião, construíssem sozinhas, um
aclamado e ensoleirado chão. O meu mundo de hoje, diz-me que não.
Agora me calo. Não consegui ter a chave que abre e fecha
essa porta de tanta, tanta questão.
Tudo é pecado, quando se teatraliza o amor da razão.
Sem guião decorado, com argumentos de quem não sabe a
peça, de quem tem sempre pressa,
olho para esta almofada, sendo essa, a verdadeira peça. A
minha cabeça no mundo da questão.
Vejo aquele palco, como vejo toda a vida.
Não percebo esta relação, esta estranha visão, porém, sei
que tudo o que piso, não é ensaiado,
não é noticiado, é o que chamam de vida, dada ou
combatida, sendo essa outra questão.
Búzios raros ecoam destino…
Búzios raros ecoam destino…
No areal sem possíveis atos de mundo mendigo, de outra
calha que encaixa ou não, a fotografia de um dia nosso de meio tostão atirado
ao rio. Onde se esgueira outro cão, no teatro do sozinho.
Neste areal, neste chão beijado de lua quarto crescente,
todas as cadeiras são cadeiras, e todas as cadeiras são iguais. Gente é gente.
E, amar é por demais.
E, os atores que passam por aqui, são animais, bestas de
amor, passam de pedra em pedra, de declives a riachos, levando a cada flor, o
cheiro perfumado e simples do amor.
Às vezes, penso em comprar um bilhete, ir a esse teatro,
atar a guita dos meus sapatos, por brilhantina nos meus cabelos fartos, e
sentar-me como espectador, sem saber ao certo se tenho desconto na bilheteira
por amar cada ato que esse teatro, torna gente em amor.
Procuro eu, longe de mim, as grandes estrelas, que o
palco não vê. Procuro-me assim.
Ser ator, não sou. Isso é um facto.
Quis beijar o que tu és, palco de teatro.
Quis beijar o que tu és, luz fosca de salto alto.
Quis beijar o que tu és, mãe de Santo de pé sujo no meu
descalço.
Olho para cima, brilham todas as estrelas, vagueiam todas
as marés, onde eu ponho sempre a lua, na sua dor de nos ter amor, afinal somos
os seus filhos que ilumina de porquês.. Sejamos bestas de cor, ou atores de
amor.
A lua cresce, esconde-se, muda.
Mas, o Homem chegou até ela. E, isso ninguém muda.
Chama-se a isso amor.Facto.
Não deixem os sonhos acordarem cedo, nós fazemo-nos já
tarde. Palcos há por toda a parte.
E, isso é outro facto.
E, amor, é amor,
seja qual for a nossa arte.
Amor é amor. Ato é ato. Arte é arte.
Todos os amores têm luas, e todas as luas têm amores. E, tudo
faz parte.
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“Peixe morto”
O ego faz companhia.
E, é tao bom tê-lo ao nosso lado.
Por vezes, faz todas as nossas vezes, é o que
vos falo…
Como a janela tardia, onde nos limpamos vezes
e vezes, ao vizinho do lado.
O ego faz o melhor que pode, quando na
simplicidade do que não fazemos,
temos saudade de nos sermos… sem termos de
nos por de lado.
O ego alimenta o corpo, com sombras videntes
de mercados livres e tão procurados.
Onde não chega o nosso meio troco, perdido em
bolsos censurados, por olhares de umbigo,
cozidos por braços rasgados, onde tudo é dito
e não dito. O ego é o amor do amado.
O ego faz companhia, nele andamos tristemente
balançados, no peso de peixes mortos, oriundos de marés de redes furadas de
atos, atiradas ao ar, para que o nosso eu também possa ser raro.
O ego define no próprio dia, como o leme da
nossa ousadia, leva o nosso barco, a terra do percebes.
O ego é a vírgula que colocamos, quando a
narrativa que mostramos, nos parece pouco,
existindo tanto lá, que nos achamos.
Ego louco!
Ego louco!
O ego faz companhia, assim como o peixe
morto, que nada, onde nos andamos.
O ego é pouco, nós é que somos, muito, pouco
ou tantos.
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“Livre mente”
Tenho um amigo que escreve.
Julgo que nunca nos vemos, e, só conseguimos
ser amigos,
quando os outros onde nos lemos, nos deixam
sublinhar nas letras,
as diásporas do que somos,
de como nos fazemos de heróis a mendigos,
quando queremos e não nos queremos,
sendo nas linhas bons amigos.
De como e quando nos damos, sem sequer nos
parecermos,
uns e outros, tantos.
As nossas deixas, as eternas queixas,
do que nos fartamos, de como nos tapamos…
Sendo ouvidas ou lidas em seitas,
as letras livres por maleitas de sermos
tantos, tantas.
Tenho um amigo que escreve.
È meu amigo, e, escreve.
O que preenche e como o faz, nas folhas
fumega o tabaco seco, gasto e sujo de paz,
sujo de ato, sujo do buraco que um mais se
tenta e se faz.
Só a mim me deixa ler o que nas letras faz,
sem eu bem perceber,
onde quer que o leve,
ou se só quer que o deixe ser,
no breve do que num amigo, ele o trás.
Tenho um amigo que escreve.
A sua pele escurecida bebe a tinta quente do
cálice da minha secura,
pintado pela mão da minha ternura,
torcida pela razão, de mais uma ou outra loucura,
ou não.
Será que esta amizade dura?
Diz-me muitas vezes ter pena,
de eu não me escorregar tema a tema,
de não ter a mão leve, de pouco me ser,
e, ter tanto que me leve.
Tenho um amigo que escreve.
Faz constelações nas letras molhadas pelo
breve da areia,
pelo rasto pisado de uma ideia,
pela luz da única estrela diurna ,
daquela plateia, de quem a una..
Onde existe e cabe cada teia, que ideia tão
feia.
Tenho um amigo que escreve, livre mente.
…………………………..
“O Café”
Fumo o meu cigarro.
Aceso no lume do teu café aquecido no quente
do escuro.
Tento ler o que está a decorar a mesa deste
café, onde vícios, são prelúdios, e, questões, pretextos de mais um outro
assento na cadeira do minuto.
Fé
aqui também há, aparece desenhada no chão, pisado todos dias pelos amanheceres
deste mundo.
Enquanto tento degustar os nossos fumos,
penso nas decisões, nesse tão desmedido e decorado nunca mais futuro.
Eu, o cigarro fino de cabaret, tu, o café
amargamente forte, amargamente quente, amargamente escuro. Palavras param,
somos os vícios do mundo.
Eu preciso de rir, e, tu, precisas de chorar.
E vícios, são também mundo.
O meu fumegar dá-te náuseas, poe te os olhos
com tiques, com comichões. Às vezes lá o acompanhas, nas suas imensas vagas de
respiros e suspiros de ilusões. De tolices.
O teu café poe me nervoso, fico irrequieto,
com o coração a bombear tensão. A olhar para tudo e para todos, no medo de
observar quem me observa, em sol de praia que ninguém espera, com a toalha
presa na trémulo da minha mão.
Olhamos um para o outro, o resto do café
finalmente esmorece.
O fumo do teu café, acompanha o acordar da
minha fumegante bengala de cabaret.
Eu
esqueço, tu esqueces, eu aqueço e tu arrefeces, ou tento, tu mereces.
Mas
que gritos de mundo, mas que tiques de panos e de vassouras, que passam a
segundo, onde medos são cadeiras, e luzes, o que sobra do escuro.
Olhamos mais um pouco, começamos a rir em
paralelo, mundo louco, mundo oco no mais perdidamente belo. Ambos sabemos dos
estragos do caminho da união dos vícios. Da comunhão do silêncio com o dos
gritos.
Por isso não falamos, não somos de mais de
mundo, somos só os seus vícios.
O escuro
da cortina fortemente aplaudida, o glamour duma cigarrilha flausina, alegre e
sorridente, no cabaret do demente, onde se senta o mundo, ou o que será dele,
de quem tente saber o que é nele. Que tente. Será só.
Estes vícios, acariciam-se um no outro, no
seu propósito, na sua missão. Um, de vez em quando chama-nos para uma reunião
de pausa, de mais um pranto decorado numa taça por encanto. Outro, com o medo
da reunião, serve de pretexto para vezes sem conta ser proteicamente decorado,
com marcas e imagens de exclusão, no peito de mais um ou outro recado, atirado
pelo átrio da sua própria questão.
Eu preciso de rir, tu, de chorar, nos vícios,
somos o chão do café do medo, só com medo de voar. Só medo.
Ambos desaparecemos no ar, e, por nele voamos
em segredo.
Pelos fumos no frio esbranquiçados, pelos na
base do quente ensanguentados, sentamo-nos todos os dias neste café, nesse
segredo, situado na rua do vício do mundo do recado, da porta que abre o mundo
do endereço, da janela com vista para o mundo em que me esqueço,
e, onde agora te falo.
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“ A pasta dos sonhos”
Eu escrevo.
Só escrevo, porque pouco vejo.
Pouco enredo no que sou, no que teimosamente beijo, no segredo de tintas de anjo, de tintas de medo. Tintas do que sou.
Na verdade, não vejo mais nada, a não ser na tinta, cada lábio de bailarina a morder esta minha estada.
Escorre-me pelas penas, que a vida lá na minha teimosia me guarda.
Por apanagens…por apanagens de um tudo ou nada.
Na vida tudo passa, e, o que não passa, passa por nós.
Os dias em que me escrevo, são me eternos a cada vez, e, em cada um deles, o sol brilha,
só, e, numa só única vez.
Para quê tanto acessório, triste mundo inglório,
redondo na sua formatura, e, tão quadrado no seu cartório.
A lua é como eu, tanto teima no que só é seu, que lá aparece, nesta triste cerimónia, onde tudo se parece, onde tudo se padece. Onde tudo já morreu.
Mal começa a dar luz a este sexângulo, onde tudo pensa que o deduz, na meia calça do encanto, perde a memória, eu, ela, alguns, melhor assim, melhor história. Melhor santo.
Mas abrimos a torneira, de mais uma fresca e acastanhada vitória, fugimos para dentro.
Do que nela se conte.
Do que nela faz ponte.
Do que nela é estrada.
Do que nela é afronte.
O que nos foge deste acordar, aparece sempre, num café esquecido, aquecido nas ondas do sonho doentio de mar. Esse mundo perdido. Esse café, soterrado por cada maré, na verdade, é... outro ato de mendigo, lemos em pacotes de açúcar, aspas de pessoa impar, no nosso, tão nosso, assento num querer ser sozinho, e, ter alguém a conversar destino.
Bebemos postulados que de tão concretos, deixam pouco, quase ou nada. Pensa-los não basta, basta só guardar...a sua essência presa aos seus calos, onde nadam vítimas de mar.
Os pássaros voam – me porque podem orar.
Os pássaros voam-me porque podem pensar.
Os pássaros voam-me porque podem chorar.
Os pássaros voam-me porque podem voar.
Só escrevo, porque pouco vejo.
Pouco enredo no que sou, no que teimosamente beijo, no segredo de tintas de anjo, de tintas de medo. Tintas do que sou.
Na verdade, não vejo mais nada, a não ser na tinta, cada lábio de bailarina a morder esta minha estada.
Escorre-me pelas penas, que a vida lá na minha teimosia me guarda.
Por apanagens…por apanagens de um tudo ou nada.
Na vida tudo passa, e, o que não passa, passa por nós.
Os dias em que me escrevo, são me eternos a cada vez, e, em cada um deles, o sol brilha,
só, e, numa só única vez.
Para quê tanto acessório, triste mundo inglório,
redondo na sua formatura, e, tão quadrado no seu cartório.
A lua é como eu, tanto teima no que só é seu, que lá aparece, nesta triste cerimónia, onde tudo se parece, onde tudo se padece. Onde tudo já morreu.
Mal começa a dar luz a este sexângulo, onde tudo pensa que o deduz, na meia calça do encanto, perde a memória, eu, ela, alguns, melhor assim, melhor história. Melhor santo.
Mas abrimos a torneira, de mais uma fresca e acastanhada vitória, fugimos para dentro.
Do que nela se conte.
Do que nela faz ponte.
Do que nela é estrada.
Do que nela é afronte.
O que nos foge deste acordar, aparece sempre, num café esquecido, aquecido nas ondas do sonho doentio de mar. Esse mundo perdido. Esse café, soterrado por cada maré, na verdade, é... outro ato de mendigo, lemos em pacotes de açúcar, aspas de pessoa impar, no nosso, tão nosso, assento num querer ser sozinho, e, ter alguém a conversar destino.
Bebemos postulados que de tão concretos, deixam pouco, quase ou nada. Pensa-los não basta, basta só guardar...a sua essência presa aos seus calos, onde nadam vítimas de mar.
Os pássaros voam – me porque podem orar.
Os pássaros voam-me porque podem pensar.
Os pássaros voam-me porque podem chorar.
Os pássaros voam-me porque podem voar.
Beijam chão, beijam serra, beijam mar, beijam todo e aquela que pensa
que o pode comprar.
O dia esquece isto, tudo aparece de menu misto, para um outro capto se deliciar.
Os dias são me eternos a cada vez, a minha pasta guarda-os com as penas daqueles que bastam,
com as borrachas daqueles que acham, que os dias são algum dia nossos, de vez.
Os dias…os meus dias vêm me de cada vez, com luz de clareira,
para que eu me esqueça da alegre sombria ideia, de poder ser eu, um pouco ou nada, só meu, de ideia.
Nadando em cada onda, de um tudo ou nada, com a pasta dos meus sonhos a mergulhar mais fundo do que eu.
O caminho é longo, a perna é curta, o sonho, é sonho de quem o escuta.
O dia esquece isto, tudo aparece de menu misto, para um outro capto se deliciar.
Os dias são me eternos a cada vez, a minha pasta guarda-os com as penas daqueles que bastam,
com as borrachas daqueles que acham, que os dias são algum dia nossos, de vez.
Os dias…os meus dias vêm me de cada vez, com luz de clareira,
para que eu me esqueça da alegre sombria ideia, de poder ser eu, um pouco ou nada, só meu, de ideia.
Nadando em cada onda, de um tudo ou nada, com a pasta dos meus sonhos a mergulhar mais fundo do que eu.
O caminho é longo, a perna é curta, o sonho, é sonho de quem o escuta.
--------------------------------
“O Pai da escrita”
Tu és cada margem onde habita cada erro, que só tu lês.
Por favor, não
tenhas medo, tu és o pai que cria por entre os dedos, o que os nossos tortos
pés, pisam lés a lés.
Tu és o que a mente sonha em segredo, pela noite do que
tu és.
O que toca num
pedaço virgem aberto, o que toca na primeira penugem do roseiral do deserto,
sem possível vista, nem possível beco.
O que voa no circo da ferrugem do nosso último teto, do
que é isto, o milagre da vida. O milagre de vivermos na palavra escrita no céu
inconcepto.
Não tenhas medo. Eles que fujam, eles que fujam.
Tu estás certo. Não dás erros no teu dialeto.
Tudo é vida, e, tudo na vida devia ser solto, e lido sem
um idem.
Tu és cada ponto negro que finda cada segredo rodeado do
que vês.
Tu és a vírgula atirada ao texto, que separa o que a tua
mão não para de tremer a cada novo beijo, que vem depois, no fim de um longo
texto.
Não sou só eu que te vejo…
Não sou só eu que te vejo…Sabes?
És o anjo da tinta, o anjo…
Tu és a interrogativa chapada em cada novo enredo, que a
tua mão não para, não para, com medo de morrer pelo toque do segredo, pelo
toque do medo do desejo.
Não tenhas medo do
teu beijo.
Tu és o espaço onde se encaixa cada sílaba, formatado no
que queres que venha de seguida, um novo pretexto de texto, quando estás de
visita a este cortejo. À vida! A esta imagem tão esquisita…onde tudo se fala
por pretextos de desejo.
Tu és a razão do adeus, quando somos nós naquela altura,
filhos teus. Nem sempre tendo altura para tal. Somos ateus de tinta. Ateus.
As palavras,
usamos copiosamente as do jornal. E daí tanto adeus sem uma palavra a ti
escrita. Adeus, adeus, isso faz tão mal. Mas que gente tão mal dita.
Tu és o pai da escrita, o amante desta visita, onde se
escreve, onde se risca, onde se edita, o que a vida nos dita, lendo a só quando
estás de visita.
Na mão trazes o bilhete amarrotado pela exclamação de
cada ato, onde todos se sentam no postulado, nesse banco tão lato…ouvindo
músicas de palhaços sem teatro.
Grande és tu pai
da escrita!
Grande és tu pai da escrita!
-------------------------------------------
“Ela dança”Tenho no coração todo o mundo,
todo aquele que o passeia nos jardins,
onde se planta e colhe uma criança.
Tenho o coração do tamanho de todo o mundo.
Por isso orgulho-me de poder sentar,
tudo o que tenho,
tudo o que sou,
tudo o que mais um ou outro tentou, e, lá dançou...
Em qualquer pedaço de chão de parquet,
onde também me sou criança.
Num mundo de quem também vê a vida que Deus criou,
nas telas pintadas por cada som.
Ouvindo nas palavras tentadas de mais um mudo,
a história do meu grande ou pequeno porquê.
Que vingança de boca molhada que beija dança.
Que vingança de teclados de ágoras de esperança.
Abraço este barulho, dele também me sou criança.
Ela dança a música do teclado do mudo.
Grande porquê estes sons, estes tons de ágoras de esperança.
Com gestos de quem amou. Mais que tanto, mais que tanta.
Com gestos de quem amou. Mais que tanto, mais que tanta.
Sem ser eu o que sou, no pano de fundo. Sou eu, sou. Mas que bela dança.
Tenho na alma todo o dar, não faz falta.
o barulho nunca é nosso...é sim a dança, é sim a dança...
É sim de quem dançou.
É sim de quem dançou.
Ela dança a música do teclado do mudo. Nesse lugar proibido de orgulho.
E, eu amo em voz alta...cada barulho em que menino me sou, onde me consigo tornar tudo. Tudo.
Tenho na alma todo o ar,
não fosse eu,
não quisesse eu, fazer-me falta.
Sendo meu , sendo teu, sendo tudo, pouco ou nada, sendo meu. Sendo vingança.
Tenho toda a emoção de uma criança,
quando ouve,
quando lê,
que afinal, em velho também se dança.
Oh história do meu eu!?
Sou tudo, tudo, menos meu.
Enquanto ela, a vida dança.
“A saliva da tua mão”
Agarro na tua mão, encosto-a á minha face seca, que ainda anda meio perdida, á espera que arte um dia conte. Onde nasça uma flor por entre os poros onde fui dor, onde vi todo o mundo como um monte, atado por cordas de quem o conte, não sendo essa a minha história, porque não é esse o meu amor.
Não sendo esse o meu amor. Por vezes compreendo aqueles tantos que tentam nele glória... roendo os dedos para poderem ser rotulados como tendo valor.
Sem caminho de saliva por ti cuspido, por me teres tanto amor. O que és para mim?
Tudo o que não procuro ,e que a minha face molha, por tu seres só assim.
Ando nos labirintos dessa tua mão, solto-a, porque sei que não é vão. Ora alegre e estonteante, ora triste, ora perseverante. Essa mão é toda a minha amante. E o resto, cruza-se na minha memória de digno ser tão errante.
Toda a minha amante. Essa mão que me ame, que me ame. Que me beije e que me cante!
Toda a tua mão, é toda a minha amante, nascida e vivida em cada quarto onde soltas-te o teu sorriso de navegante, que acorda a minha vitória, de hoje ser eu o teu eterno amante.
Afinal, não é breve esse aconchego, que chega devagar, de relevo em relevo, onde me inteiro do que escrevo, nas linhas que me vais cantando, por eu te amar. E, morro de medo em segredo, por não ter as unhas limpas de tanto de ti neste mundo escavar.
Vivo nas mãos que cerram os punhos de tantas histórias enraizadas. Abro as mãos, na esperança de pouco não haver, esse mais nada. Afinal o que é o meu ser? Tanto, pouco, ou nada. Na verdade pouco mais me interessa, do que o burburejo desse lábio, desse encosto da minha carne, onde me sou sábio, e otário quando não consigo aí chegar.
Cada lágrima, cada lenço seu, que me vês escorrer, pertence ao rio, onde todos os dias te vi, onde todos os dias te li, onde todos os dias te ouvi, amor não quero de ti mais nada. Fui sempre e serei sempre teu. E, isso já é um sim para mim. Sim?
Passeia-me pelos dedos formosos e frágeis dessa tua mão, enquanto eu gasto toda a saliva na tentativa de catita, de te dialogar todo o ontem, todos os antes, de eu sentir a tua mão na minha pele sem nenhuma outra visita.
Não tenho para ninguém cartão de visita.
Tenho por demais pouca saliva, para te explicar o que é isto, e, o que nisto é amor.
Eu digo-te que amar é partir.
Tu respondes-me que partir é amar.
Os dois, só nos dias, tu com essa frágil e precisa mão, eu com a minha saliva que gasta o que anda só, o que não é seu, por não amar o que dizem ser o “amor da razão”. Oh!
Pintamos a tela com o nome da ”Saliva da mão”, por não sabermos pintar no coro, onde este mundo expõe tanta arte, sem olhar para o porque de todos os grandes finais não terem um ponto final. Amor dá-me a mão. Somos arte!...
Amor dá-me a tua mão, o nosso quadro ficou lindo, e por toda a parte vai-se indo.
------------------------------
“ O Pedido da lua”
Pedes me para te falar da lua.
Pedes tanto e não sabes porquê.
Esse pedido, essa ideia, faz-me lembrar aquela aranha que
só quer mais e mais teia.
És linda demais porquê?
És linda, és feia, és tudo aquilo que eu olho pela lua,
no que este mundo não vê.
Não tens nem vaga
ideia, do que o sol, que vem no seu depois é…
Pedes me para te falar da lua
Julgo que tens medo do seu brilho, julgo que passeias
pouco a tua mão pelo seu umbigo. Sabes? Também é redondo, também é escondido.
Também muda de destino, com formas e cores de carinho, porque também tem medo
de perder o brilho…
Pedes me para te falar da lua.
Enquanto eu, estou sozinho.
A lua é tua, é tua, é só quereres pintar naquela forma sua,
o porque de me fazeres tal castigo.
Porquê?
Ando á toa, ando comigo longe de mim. Ando perdido, e só
a lua o vê…
Ando á tua, passada a vir ter comigo, passada que o meu
céu não vê. Porém pouco chão é em vão, se eu souber que esse sorriso não o é.
Pedes me para te falar da lua
É tua, e eu não sei porquê.
-----------------------------------------------
"Meios"
Quando a luta acaba...Põem na folha a nossa cara...
Começam os poetas, nos passeios da simples concha furada, pelo gozo da enseada,
obrigada a beijos simples de papéis. Eu que veja, falas no tarde da madrugada,
viajadas pelo sol de feridas de mais uma mão atada, pelas cordas da razão. Pelas
cordas dos olhos da cor atada, que só vêm o chão, quando lá não há nada.
Quando a luta acaba...Põem na folha a nossa cara...
Começam os poetas, nos passeios da simples concha furada, pelo gozo da enseada,
obrigada a beijos simples de papéis. Eu que veja, falas no tarde da madrugada,
viajadas pelo sol de feridas de mais uma mão atada, pelas cordas da razão. Pelas
cordas dos olhos da cor atada, que só vêm o chão, quando lá não há nada.
Temos
ida, temos vida, temos búzios, temos chão.
Com luzes pelo meio, de cada nossa tentativa de ver a estrada.
Quando a nossa rua nos muda a porta de entrada...
Começam os poetas, começa a verdadeira alvorada.
Quando na tua, a minha história é empedrada....
Começam os poetas...de pedra e martelo, na mão dos olhos, cega de tanto pó, vendo o nada do coração que sopra por ser só. E, não ser nada.
Que dó. Somos o tudo da madrugada, e, esse tudo, é só, é só.
Em nós se prescrevem, pela confusão dos que se querem e não se querem, pelas estradas de umas, poucas, algumas palavras que tanto amam, que tanto ferem. Que tanto nos querem entreter no teatro do palhaço do nariz do dó.
Que escutam?
O que os oceanos nos mostram, e, o que no fundo verdadeiramente querem...em ostras, em ossos de peixes soterrados pelas ondas, que nos levam ao cemitério decorado pelo "sei a campa do que sou."
De mais um passeio que pisa a enseada, de mais um dente que morde o fim da estrada, de mais um coração ultrapassado pelas aspas daquela esplanada,
onde vivem os meios que se esquecem do seu, "o que sou." É só?
Na simples analogia de raças..no preto, e, no branco de aspas..
Pintam folhas de cometas, sem nunca lhes pedirmos nada. Bastas, bastas...
São tostões de cada vírgula chapada, são visões sem óculos de graduação anunciada..
São os poetas!
É essa a estrada..
São os poetas!
É essa a estrada...
São eles que nos ferem, são eles que nos querem,
quando de nós, somos tanto, querendo ser nada.
Quando na verdade somos reles, por sermos no tudo, a única maré que molha essa estrada, onde o sol é só. Onde canta cada mudo á espera das letras do palhaço do nariz do dó.
É assim que eles nos querem...assim são leves, na balança
abeirada nessa estrada, que poisa esse ultraleve, que voa na enseada, sem termos para-brisas para tanta sua neve...voando nas palavras, pelas ruas da multidão, que chora pelo nada.
Com luzes pelo meio, de cada nossa tentativa de ver a estrada.
Quando a nossa rua nos muda a porta de entrada...
Começam os poetas, começa a verdadeira alvorada.
Quando na tua, a minha história é empedrada....
Começam os poetas...de pedra e martelo, na mão dos olhos, cega de tanto pó, vendo o nada do coração que sopra por ser só. E, não ser nada.
Que dó. Somos o tudo da madrugada, e, esse tudo, é só, é só.
Em nós se prescrevem, pela confusão dos que se querem e não se querem, pelas estradas de umas, poucas, algumas palavras que tanto amam, que tanto ferem. Que tanto nos querem entreter no teatro do palhaço do nariz do dó.
Que escutam?
O que os oceanos nos mostram, e, o que no fundo verdadeiramente querem...em ostras, em ossos de peixes soterrados pelas ondas, que nos levam ao cemitério decorado pelo "sei a campa do que sou."
De mais um passeio que pisa a enseada, de mais um dente que morde o fim da estrada, de mais um coração ultrapassado pelas aspas daquela esplanada,
onde vivem os meios que se esquecem do seu, "o que sou." É só?
Na simples analogia de raças..no preto, e, no branco de aspas..
Pintam folhas de cometas, sem nunca lhes pedirmos nada. Bastas, bastas...
São tostões de cada vírgula chapada, são visões sem óculos de graduação anunciada..
São os poetas!
É essa a estrada..
São os poetas!
É essa a estrada...
São eles que nos ferem, são eles que nos querem,
quando de nós, somos tanto, querendo ser nada.
Quando na verdade somos reles, por sermos no tudo, a única maré que molha essa estrada, onde o sol é só. Onde canta cada mudo á espera das letras do palhaço do nariz do dó.
É assim que eles nos querem...assim são leves, na balança
abeirada nessa estrada, que poisa esse ultraleve, que voa na enseada, sem termos para-brisas para tanta sua neve...voando nas palavras, pelas ruas da multidão, que chora pelo nada.
Que se leve de vez esse nada. Que se leve.
Sentem saudades dos nossos devaneios.
E, sentam-se nos papéis,
e, erguem quartéis...
Sentem saudades dos nossos devaneios.
E, sentam-se nos papéis,
e, erguem quartéis...
Para nos darem um abraço, sem nunca para isso terem meios..nem mão nos
braços...pinceis "do que nos acho"..tintas dos que nos
querem...tintas de aço, tintas que se bebem...Acho.
Embora nos beijem em papeis..
E, usem um ,dois sóis de vinténs...
Perdidos lá nos acham,
e, ficam cumpridas as suas missões de anjos Migueis.
Nos meios do adeus, dizem bom dia nos bilhetes soterrados por portadas de hotéis...
Onde somos seus, seus. Meios no frio da caneta que acha, que o calor do escorrer da sua tinta, já basta, já nos basta!
Embora nos beijem em papeis..
E, usem um ,dois sóis de vinténs...
Perdidos lá nos acham,
e, ficam cumpridas as suas missões de anjos Migueis.
Nos meios do adeus, dizem bom dia nos bilhetes soterrados por portadas de hotéis...
Onde somos seus, seus. Meios no frio da caneta que acha, que o calor do escorrer da sua tinta, já basta, já nos basta!
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“Á tona de água”
A beleza dos dias,
não
está em escolhê-los…
Mas
sim, sem estar á espera de nada, simplesmente vivê-los…
Sim,
escolhermo-nos a nós!
Sim,
nós merecemos vivermo-nos….
A beleza da vida, é tal e qual a beleza do vento,
nuns
dias leva-nos a passear pelas nuvens….até sermos donos de cada momento…
Voamos
e voamos sem parar, perdidos pelos bons tempos….
Noutros, magoa-nos a valer, perdidos nos
espaços do cair e levantar…nos nossos piores ventos…
A vida
por vezes é tão bela e simples, como a água, clara, fria e incipiente…
Tão simples que deixa-nos á tona da nossa
própria alma...até a esperança fica ausente…
Até
bebemos com lamúria, tudo o que escapa do nosso copo tão lindo, tão reluzente….
A beleza dos momentos, não está em criá-los
como se fossem pequenos rebentos,
mas sim, cuidá-los e amá-los com tudo o que
temos…
Há
quem arrisque falar da vida, e falam muitos falam por aí, numa escolha,
com
peso e medida, com uma calculadora para os dias e uma bengala para os restos
das nossas visitas..
Eu,
prefiro pensar na vida como um desafio,
se temos de apanhar chuva, pois que seja com muito frio…se temos de sofrer,
pois que seja com muito brio, porque na vida meu amigo, nada conta, só o que
vamos passando com o leme á deriva, remoído e meio partido na ponta, pois é no
tentar que tudo conta..
Como tudo é tão nosso, quando nada se nos
aponta..!
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Sou todo uma pessoa...
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Sou todo uma pessoa...
Para quem o
entenda, não sou mais nada.
A não ser pessoa,
a não ser, a não me atrever a ser mais nada.
Sou toda uma voz
que grita, até que a alma mais calma, seja por mim, só
por mim, um dia
dita." Bem vinda, esta é minha fala".
Sou todo uma
pessoa.
Sou todo um olhar,
que perdoa, não perdoa, que se perde em cada beco, em cada eco, onde vive a
pessoa que vos falo nesta folha, suja e quadrada, restante de braços de árvores
que nos indicam as direções para o principio do fim, esse momento de nos vermos
no fim. No fim disto que dizem que tem nome, que dizem que se chama vida, e,
que afinal, por vezes não chamamos, por vezes, não vivemos, e, por vezes, nem
olhamos o que nela tem de belo.
Os seus
horizontes.
Os seus belos e
únicos afrontes de horizontes. Ser pessoa é belo.
É único e belo.
As suas vistas
quentes de lumes frios, os seus cheiros ardentes de perfumes vazios, as suas
carnes sedentas, de quem as use, por meros brios. Só por meros brios.
Sou todo uma
pessoa.
Sou a pessoa que
lhe fala no ouvido, que tem mais de perto. E, mesmo longe, sou seu amigo. Sou eu, "o mago do
deserto".
Sou todo uma
pessoa, certo, ou incorreto. Ser pessoa, é isso, é esse constante "estar
perto".
Moralmente aceite,
onde socialmente há quem se deite, neste gelo sem quebra nozes, que o embeleze,
no frio do calabouço, de quem comece, a construir o seu rosto, no gélido do seu
gosto, de ser pessoa, contra tudo
contra todos, por
gosto. Gosto
Sou pessoa, sou
uma alma que voa por entre as gotas que caiem nesses corpos, que usam, e
abusam, quando voltam, quando soltam, as mãos pelo
perspicaz
desgosto, de mais um par de mãos encontradas, amarradas, e, salvas. Sendo esse,
o último reduto de ver num dia, o sol posto.
Sou todo uma
pessoa.
Tenho rosto, tenho
corpo que acompanha o meu sonho, o sonho, de não precisar de ser mais nada, a
não ser pessoa, sendo tudo, sendo oposto, deste mundo de quebra-nozes, sem
nozes, seu o seu verdadeiro e único terráqueo
sentido ou gosto.
Sou todo uma
pessoa.
Amo tal e qual a
vida nos quer. Por gosto.
Amo a existência,
seja esta o que for, de onde venha, e, que vá para onde
quer que for.
Afinal, sou uma
pessoa, e nesse só, sou todo o mais, como a noz, que vem do fruto, que se parte
e reparte no que é isto, e, o que nisto, é amor.
Sou todo uma
pessoa.
Sou todo o amor.
Que baila na sintonia das frequências dos meus dias, onde meu sou tudo, um
pouco ou nada, com mais ou menos calor, mais ou menos frio, mais ou menos amor,
mais ou menos tio de pessoas, que se esquecem, que esmorecem, sem brincar com
os seus rebentos, nas encostas do que rio, no nosso rio, á beira mar
depositado, onde pessoas, são pessoas,
e, onde amor
deveria ser plantado, e solto com brio.
Sou todo uma
pessoa, é disso que vos falo. E, de amor.
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"Salto alto"
Tu és um espetáculo que ninguém ainda conseguiu montar
bem o palco, nem acertar o zoom do foco da luz... batem palmas sem
aplauso, no coliseu de alguns.
Por entre aquelas meia dúzias de escadas, presas como
chagas, presas por
chegadas, para que leias os papéis, sendo essa a tua
cruz...
Eu, tu, alguns...
Tu és um espetáculo, não te esqueças da luz!
O resto é ato atrás de ato.
O resto, sem aviso, lá reluz!
Ama-te no palco, a plateia está sentada á espera... de
mim, de ti, de alguns...
Não te esqueças da luz!
Não te esqueças da luz!
Anda, tira tudo dos bolsos, atira tudo ao ar, tocam
pianos de ágoras.
Começa daí essa arte que é representar! Esse ato, de dar
e amar e amar e dar.
Ato atrás de ato, e, ama o que há para amar, chora e clama cada vista do teu
Ato atrás de ato, e, ama o que há para amar, chora e clama cada vista do teu
palco, montado nas ondas que gritam por mar.
Tu és um espetáculo, montado no palco da tua cruz, tocam
pianos de
ágoras.
Nela usas salto alto, e, por isso, poucos são teus, alguns...
Nela usas salto alto, e, por isso, poucos são teus, alguns...
Tira tudo que não te faz falar mais alto, esses dialetos
são como o nunca,
que aprende com alguém a lenga lenga do que a alma não
introduz.
Do vem e não vem, de alguns...
A tua cruz está estancada nesse palco, onde está a tua
fala? Esta é a hora,
de vestires esse salto alto, e o que ele conduz...
Vejo-te mais alto!
Vejo-te mais alto!
Meu ator de meia fala, com olhos que brilham a cada bala
que a plateia
deduz...
Tu és um espetáculo... vives de salto no alto, pelas meia noites... alguns...
Tu és um espetáculo... vives de salto no alto, pelas meia noites... alguns...
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“Sentidos”
Do pouco que conseguimos carregar com o nosso melhor
punho, semi
original, e semi nosso, chamamos-lhe sentido.
Dar sentido ao que vivemos, sem saber se mal ou bem o
fazemos, é o
nosso grande apanágio, até morrermos.
Será que existe uma linearidade de sentidos?
Ou todos tentamos fazer o nosso próprio sentido…
Mas ai põe se outra questão no tabuleiro… o nosso sentido
pode atropelar o sentido de outro?!
Então…o nosso sentido é mesmo nosso?
Ou o sentido de cada um pertence também ao outro?
Será que faço sentido?
Ou o meu sentido de dizer isto acabou com o sentido de
alguém?
Pois não sei, só sei é que andamos a vida toda a procurar
bocados de ar, pô-los nos nossos bolsos e chamá-los de nossos.
Temos medo, medo de não seguir o nosso sentido, e, por isso
agarramos tudo o que podemos e damos lhe nome, significado e sentido também.
Porém, tudo passa, e esse sentido fica, na estaca
enterrada na areia movediça a que chamam de vida.
Passa de geração em geração, ou abre asas numa outra mão.
E, mesmo não sendo nosso, fica a fazer parte de nós.
Tal como eu que escrevo para perceber o que significa um
sentido, e para vós não fazer
sentido nenhum…
Isso para mim é aliciante, pois não pisei ninguém na
minha passadeira, e atropelei o sentido de alguém que pode nem saber se
passadeira tem. E alguém parou na
passadeira desta minha ida, para ver se eu estava no sentido certo...
É bom não é?
Não ter sentido e ter o seu significado…
A vida é um mistério ainda tão pouco revelado…
Todos procuram sentidos para acharem que são mantidos
dignificados…e que foram a algum lado.
Eu diria de outra forma, somos dignificantes seres
errantes.
Sempre á procura de nós mesmos, e é ai que somos tão
aliciantes.
Há estranhos no navio
“Há estranhos no navio… O caminho foi longo, em demasia tardio. A embolia das escovas onde quem lá dança, perdeu-se no rasto, encovou parte do navio no rio.
Um dos estranhos ri e diz ao comandante, ao mesmo tempo que este tira do seu bolso, meio rasgado, meio cosido, a eterna dança de um bafo de cigarrilha de ”senhor do navio”:
-Meu comandante, nem a mais bela dança tira este navio daqui, onde perdeu todo o seu brio.
O comandante exaltado, olha para tudo e para todos meio de lado, e ele próprio lança a âncora ferrugenta e sedenta de destino, água adentro. O outro estranho dança enquanto o comandante faz a si mesmo tal castigo. O seu navio é conhecido por parar onde só há lembrança... onde só há lembrança e desta vez só há medo, fastio e desrespeito por uma vida de leme na ponta das mãos sujas, de tantos dignos dias, semanas, meses, anos de duas, e só, apenas duas mãos. Há estranhos no navio…
Outro estranho pergunta ao comandante se ele fala para si porque quer saber mais de si, ou porque tem saudades suas, de si mesmo. O comandante responde dizendo:
-Há estranhos no navio e lá fora sou um estranho, e este leme é o meu mundo, e o meu mundo é o que eu amo! Mas hoje tenho frio, e na ausência de mar, não sei mais o que vejo! Mas afinal, onde estamos nós?
Outro estranho pergunta:
-Senhor comandante diz “nós” e não diz “eu” porquê?
-Porque eu sou um homem do mar, e pelo que vejo, só vejo estranhos, e por isso hoje paro, respiro o tracejo da minha âncora de mar que foi sempre só, como eu, de passagem. E hoje, há estranhos no navio… Pergunto eu? Estão de passagem? Estou doente não só nas mãos, mas na cabeça e isto é uma miragem?
Por fim, o único que não era seu estranho diz:
-Sr. Comandante bem vindo á outra margem!
………………................................................…
A estrada
"A verdade amanhece no escuro da estrada que nos envolve a cada segundo
que o ponteiro estala.
Dois passos, dois traços daquela colcha que um dia nos encobre num simples e quente nada.
Andas no fundo da estrada?
São do início os seus encantos, encanta-me mais alguém. Mas sou desta estrada.
Sou dos encantos desses dois passos, dessa sombra onde vejo a minha face
noutra vida.
É, noutra estrada também há vida, mas é diferente o seu luar.
Sem me perguntarem nada, de nada serve a minha fala. Estou bem nesse
“estar bem”.
“ Estou bem, obrigada”.
Dou mais um passo até ao bem estar, mas dói-me a
perna nessa tão grande caminhada.
É esse o meu jeito de ver a estrada.
Sem luz dormente, sem passadeiras de gente, sem sinais de perigo eminente.
Só estrada, mais nada.
Não há diploma, nem festa de arromba que consigam ecoar essa desmesurada e incompreensível imensidão desta gota que encobre o meu
olhar de lua de mãe, soluçando em ámen. Em ámen…
Bater com a cabeça dói, mas com o coração, mais valia acreditar na razão…. só orando e dando na ponta da saliva a última vírgula.
Mudando ou não de calçado, cabe a cada um preparar-se para a estrada.
Nas sombras das catacumbas que entendem o agora, como um acessório
para guardar o que no que existe no amor, e o que no amor, nesse resíduo
redentor, esse tentar engasgado na dor, de amar porque se ama, e não porque se amanhece a ser…
Amor é…Amor é ser amor.
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WC
Na verdade, e na mais pura das mentiras, a vida, essa passagem mendiga, resume-se a duas claras distintas perspetivas.
Sendo a primeira um de nós dar um traque proveniente de um paradoxo intestinal, e toda uma multidão bater palmas em regozijo profundo pela enublagem caótica que o seu odor profana.
Por outro lado tampouco interessa tal demagogia, aparecendo um ser mais "limpo" dizendo "a casa de banho é daquele lado!"
---------------------------------------------------------------“Argus e Gente”
Duas personalidades distintas, certo dia encontraram-se para jogar o seu habitué jogo de cartas.
Este jogo, não era de todo normal, mais ninguém jogava com tais cartas.
Dizia-se no Reino que eram cartas com poderes quiméricos e até mesmo, que cada carta largada naquela pequena e fina mesa de bambu, ditava o destino de um dos habitantes do Reino.
O jogo já ia bem embalado, cara a cara, restavam apenas estes dois seres, os mais respeitados e mais falados em todas as portas que tivessem direito a janelas, só tendo direito a estes orifícios de onde se podia discutir o “estado da arte do Reino”, quem tivesse uma posição de destaque na vida profissional ou social do Reino.
Frente a frente, estavam o Rei, que tinha como nome Argus, e o Génio, a quem todos chamavam Gente.
Por entre uma jogada e outra, mais uma ou outra vida atirada na mesa tão simples e fina, como a vida daquela gente, o Rei Argus ia fazendo perguntas ao seu Génio particular (pelo menos assim o era, enquanto jogassem).
Argus, a um certo momento dá um murro na mesa e diz:
“-Não jogo mais este jogo! Está viciado por ti Gente! Já perdi três dos mais respeitosos e dignos Homens do meu reino para teu belo prazer!!!"
Gente responde:
-“Pensaste bem na primeira parte do que dissestes meu Rei, a última falhaste redondamente…eles do meu lado nada fazem e só atrapalham, mas sim são dignos deste Reino como qualquer um…”
Argus meio confuso, meio alcoolicamente disposto, manda servir mais uma dose de Absinto Tónico, a sua “bebida de conversa”…depois de uns goles atravancados na goela devido ao mau estar que começava a presenciar em si mesmo, acende a sua “cigarrilha de desabafo”, virando-se para o Génio e perguntando:
-“Um arrasa-me os cofres, já quase me levou à falência duas vezes, outro anda sempre a roubar as mulheres do Reino, e, outro que não vê nada, é cego de nascença, e que embora ninguém saiba como, sabe sempre tudo de todos, pergunto-te, porquê?”
Génio, com a sua habitual postura de meio sério, meio gente, tenta responder ao seu Rei sem o intuito de o ferir ou ofender dizendo:
-“Deveras interessante meu senhor, e muito lhes prezo também, pois saiba sua excelência que todos acarretam problemas, e não ganha nem perde ninguém em os ter, é como se eu e sua Alteza ficássemos “quites”.
Ora vejamos, o primeiro gasta o dinheiro todo do Reino por dois motivos, as moedas pesam-lhe nos bolsos, e as notas ele não ouve cair.
O segundo, que tem todas as mulheres do Reino atrás dele, é amado por “se saber”, e no entanto não sabe que ama.
O que não vê, é o caso mais importante de todo o Reino, tem poderes quiméricos e feiticeiros, pois embora não veja, “enxerga” tudo o que se passa no nosso Reino.
Depois de ter ouvido proferir tais concepções nunca pensadas pelo próprio soberano Argus, este em meio de ironia pergunta ao Sábio:
-“ Já que sabes tanto de tudo, porque sou eu Rei?”
Ao que responde o Sábio:
-“ És Rei porque és o único no Reino que consegue argumentar, embora mentido”.
Argus acusa a verdade no que o Génio diz, e no intuito de dar a machada final na conversa, dá mais um gole no seu Absinto Tónico, pensando que tinha perdido tudo no meio de um simples jogo e pergunta muito sério:
-"Como é que tu fazes isso?”
-“Isso o quê meu Rei?”
-“Como consegues discernir tudo isto, deves ter algum poder que eu não saiba, aliás que ninguém saiba!”.
Ao que o Génio na sua humildade tipicamente épica, responde:
-”Para esse “isso”, para me perceberes, só tens de pensar em duas pequenas coisas…”
-“Responde-me raios”, diz o Rei partindo com um golpe feroz a pequena mesa com as mãos.
-“Primeiro de te esquecer que sou Sábio, e segundo tens que te lembrar que sou Gente”.